130 curiosidades dos Beatles que você provavelmente desconhece

Sérgio Vilar

A Guerra Fria amedrontava todos, sobretudo adolescentes da década de 1960 cercados de medo e vontade de viver. E então quatro jovens cabeludos apareceram no jogo e mostraram ao mundo canções repletas de alegria e amor. Os Beatles foram a utopia que a época pedia. E revolucionaram uma década de guerras civis e ideológicas com a força da música e tantos experimentalismos sonoros. John, Paul, George e Ringo foram maiores do que os criativos e pulsantes anos 60. Representaram uma geração que acreditava poder mudar o mundo, mas as canções dos fabfour nos lembra que houve um tempo em que era possível sonhar acordado. E é desse tempo mágico, já tão estudado e biografado que pinçamos 130 fatos colocados em ordem cronológica para remontar a história dos Beatles a partir de curiosidades da banda. É possível que você conheça algumas, se surpreenderá com outras e achará graça de certas passagens dessa narrativa. A maioria dos fatos a seguir foi tirada do livro Cant’t Buy Me Love, escrito pelo jornalista Jonathan Gould. Deu um trabalhinho, mas curtam aí. É para se divertir!

THE QUARRY MEN

  1. John Lennon e Paul McCartney se viram pela primeira vez em uma quermesse na igreja de St. Peter, no subúrbio de Woolton, Liverpool. Era julho de 1957. A famosa foto de Lennon com os The Quarry Men, foi tirada nesse dia.

The Quarry Men, ainda só com Lennon

  1. Os Quarry Men – primeira banda de Lennon – era formada por Peter Shotton, Rodney Davis, Colin Hanton e Eric Griffiths. Se chamava assim porque o diretor da escola Quarry Bank só liberou a primeira apresentação grupo no baile anual da escola sob a condição do nome.

  2. Praticamente nenhuma biografia conta que Lennon tem ou teve uma irmã chamada Victoria, fruto de um romance passageiro de sua mãe Júlia com um soldado galês na segunda metade dos anos 50. A filha foi entregue rapidamente à adoção e nunca mais se ouviu falar dela.

  3. A canção Heartbreak Hotel, interpretada por Elvis em 1955, foi um divisor de águas para o gosto musical de Lennon e McCartney. Foi quando começaram a escutar e admirar um tal de rock’n roll.

  4. Apesar de os quatro viverem nos subúrbios de Liverpool, apenas George e Ringo chegaram a trabalhar em subempregos. George foi ajudante de eletricista. E Ringo, aprendiz de encanador na empresa Hunt’s.

  5. O primeiro clube onde o núcleo central dos Beatles – Lennon, McCartney e Harrison – tocou não foi o Cavern Club, mas o Casbah, em 1959, ainda com a desconhecida banda Quarry Men. À época a banda reinante de Liverpool se chamava Rory Storm & The Hurricanes, cujo baterista era Ringo Starr.

  6. Antes de se chamarem The Silver Beatles ou simplesmente Beatles, a banda ainda se apresentou como Johnny & The Moondogs, com o baixista Stuart Sutcliff na banda. Em agosto de 1960 seria a vez da entrada do baterista Pete Best – o único disposto a viajar com quatro malucos até Hamburgo, Alemanha, para um mês de apresentações no Indra Club, um inferninho onde tocaram seis dias na semana, seis horas por dia.

  7. Astrid Kirchherr, depois namorada de Sutcliff, foi responsável, provavelmente, pelo primeiro ensaio fotográfico de uma banda de rock, em novembro de 1960, quando convidou os Beatles para uma sessão em um parque de diversões deserto de Hamburgo.

Em Hamburgo, com Pete Best e Stu Sutcliff na banda

  1. A primeira gravação em estúdio dos Beatles se deu no primeiro semestre de 1961, sendo banda acompanhante de Tony Sheridan. Essas gravações podem ser encontradas em vinil com o título ‘Os Beatles em Hamburgo’. No disco ainda se vê Lennon cantando em Ain’t She Sweet, de Eddie Cantor, e uma composição instrumental dele e Harrison intitulada Cry For a Shadow.

  2. Em 1961 havia cerca de 250 bandas de beat numa região de Liverpool chamada Merseyside. Nessa época, os Beatles já se destacavam entre os grupos locais.

  3. Em outubro de 1962 os Beatles, que haviam apenas lançado um compacto com Love Me Do entre as 50 mais tocadas, abririam show de Little Richard, em Londres.

PLEASE PLEASE ME

  1. Love Me Do chegou a ser gravada em estúdio por três bateristas. Após a péssima performance de Pete Best, o produtor George Martin exigiu um baterista de estúdio, aos Beatles, que convidaram Ringo Starr. Ainda insatisfeito, Martin chamou Andy White. Mas prevaleceu a versão de Ringo, em acordo entre os outros integrantes e o produtor.

  2. Please Please Me era uma balada lentinha, quase melodramática, declarada “sombria” por Martin. E foi ele o responsável por acelerar os arranjos e transformá-la, no que ele mesmo profetizou ao fim da gravação, como sendo “o primeiro numero um” da banda.

  1. A foto de capa dos Beatles no álbum ‘Please Please Me’ foi tirada pelo famoso fotógrafo de teatro chamado Angus McBean. Ao fundo, a sede da EMI, na Manchester Square, Londres.

  2. O LP ‘Please Please Me’ permaneceu em primeiro lugar nas paradas entre maio e dezembro de 1963. Até então, apenas a trilha sonora do filme South Park tinha conseguido esse feito. Nem Elvis!

  3. Mesmo com apresentações sequenciais e gritos histéricos das fãs após o sucesso incontestável de ‘Please Please Me’ e do compacto encabeçado por From Me To You, os Beatles ainda foram coatração em show de Roy Orbinson, um queridinho dos fãs americanos, no primeiro semestre de 1963.

  4. Sim, Lennon já usava óculos no início da década de 60, mas se recusava a colocá-los no palco por pura vaidade. Por isso tantos piscados ante às tantas luzes e flashes vistos nas transmissões da TV.

  5. O compacto com She Loves You se tornou o mais rapidamente vendido na história da Grã-Bretanha, com 750 mil cópias em menos de um mês. Com isso, os Beatles encerraram suas apresentações nos inferninhos dos clubes noturnos. E o último desses shows, em meados de agosto de 1963, quem diria, foi no Cavern Club. Dois meses depois, a Beatlemania havia se instalado no país.

  6. Além dos Beatles, Brian Epstein agenciou outras duas bandas da mesma região do Merseybeat, em Liverpool, que também atingiram o topo das paradas em 1963: Gerry & The Pacemakers, e Billy J. Kramer and The Dakotas.

  7. Lembram a famosa frase de Lennon antes de tocar Twist and Shout, quando disse: “As pessoas dos lugares mais baratos poderiam bater palmas? O resto só precisa chacoalhar as joias”? Foi em novembro de 1963, no Royal Variety Show e com presença da Rainha Mãe na plateia. Mas, a frase foi cuidadosamente ensaiada antes. Portanto, nenhum arroubo espontâneo de John.

  8. Um taxista contou a um jornal da época que os Beatles não se continham e a cada parada de sinal, um deles saltava do carro para conferir notícias suas em bancas revistas nas proximidades.

WITH THE BEATLES

  1. Oito das faixas de ‘With The Beatles’, o segundo LP da banda, lançado em novembro de 1963, foram gravadas ainda em julho, antes do lançamento de She Loves You. As outras seis, em apenas dois dias de setembro. O álbum permaneceu cinco meses no topo. I Want to Hold Your Hand, apesar de pronta, foi lançada em compacto uma semana depois como um trunfo.

  2. Em novembro de 1963, Chuck Berry acabara de sair da prisão em liberdade condicional e uma das seis regravações em ‘With The Beatles’, o clássico Roll Over Beethoven, lhe rendeu alguns bons direitos autorais neste período crítico.

  1. A fotografia da capa de ‘With The Beatles’ foi tirada no salão de baile de um hotel em Bournemouth, onde os Beatles se apresentavam na época. Um preto e branco incomum à época e registrada pelo jovem Robert Freeman, afiliado ao movimento da Pop Art.

  2. Foi George Harrison quem recomendou ao presidente da Decca Records, Dick Rowe, a contratar um quinteto de rhythm and blues dos subúrbios de Londres, ainda no verão de 1963, chamado Rolling Stones. Depois, Lennon-McCartney cederiam a canção I Wanna Be Your Man, primeiro sucesso de Mick Jagger e cia.

  3. Mesmo com milhares de fãs se acotovelando por onde os Beatles fossem ou até montando campana em frente às casas de seus pais, em Liverpool, os compactos da banda continuavam rejeitados nos EUA. Brian Epstein foi então à Nova York persuadir a Capital Records e o apresentador de TV, Ed Sullivan. E aí vem o momento ímpar. Epstein se encontra por acaso com Sullivan no Aeroporto de Heathrow no dia em que os Beatles voltavam de uma série de shows na Suécia e o local estava infestado de fãs frenéticas. Impressionado, uma semana depois Sullivan se encontra com Epstein para agendar a participação da banda no programa televisivo. Seria o começo da invasão beatlemaníaca na América.

  4. O compacto com I Want to Hold Your Hand foi o primeiro disco lançado na Grã-Bretanha a vender um milhão de cópias antes do lançamento – feito alcançado uma única vez no mercado americano, por Elvis em 1957, com o compacto Hound Dog / Don’t Be Cruel. Sendo o mercado inglês à época, um terço do americano, os Beatles tinham lançado tantos compactos milionários em 1963 quanto toda a indústria fonográfica americana naquele ano. E I Want to Hold Your Hand foi o compacto de venda mais rápida da história da música até hoje.

  5. I Want to Hold Your Hand finalmente convenceu a poderosa Capitol Records a bancar os Beatles nos EUA. E com pressa porque a música já chegara à América com força. Tanto que antecipou o lançamento do compacto de janeiro para um dia após o Natal de 1963. Logo após o compacto, se dedicou ao lançamento do disco ‘Meet The Beatles’, cuja capa e parte do conteúdo foram “emprestados” do ‘With The Beatles’, que havia passado em branco nos EUA. Desnecessário dizer que uma enxurrada de novas canções, incluindo Please Please Me e She Loves You, e em meio à histeria recente, lotou de canções dos Beatles as estações de Top 40 nas rádios dos EUA.

  6. A participação dos Beatles no Ed Sullivan Show rendeu a marca de maior audiência da história da televisão comercial, com 70 milhões de ouvintes.

  7. Em março de 1964, antes do lançamento de ‘A Hard Days Night’, Lennon publicou um livro de prosa e poesia intitulado ‘John Lennon in His Own White’, composto por 30 textos curtos.

A HARD DAYS NIGHT

  1. O linguajar liverpudliano dos Beatles era característico da região do Merseyside. Ringo tinha o maior arsenal de gírias. E Lennon guardou uma delas, após uma “noite de um dia duro”, ou A Hard Days Night, que intitularia o terceiro LP do grupo e o primeiro filme.

32. Na turnê nacional dos Beatles pelos EUA, Brian Epstein recusou pedido da assessoria de imprensa da Casa Branca para que a banda fosse fotografada com o presidente em Washington depositando uma coroa de flores sobre o túmulo de John F. Kennedy. Eram tempos sombrios na política americana.

  1. Os Beatles ouviram Bob Dylan pela primeira vez em janeiro de 1964, quando Paul comprou seu segundo álbum e o pôs no quarto de hotel do grupo, durante temporada de shows em Paris. E o curioso: Dylan também ouviu os Beatles pela primeira vez no mesmo mês, quando I Want to Hold Your Hand se tornou onipresente nas rádios americanas.

  2. O encontro entre Dylan e os Beatles se daria em agosto de 1964, na suíte do hotel Delmonico. Feitas as apresentações, o que fizeram lá? Ficaram chapados, sendo os Beatles, pasmem, pela primeiríssima vez!

BEATLES FOR SALE

  1. 1964 se encerraria com o lançamento de ‘Beatles For Sale’, para as compras britânicas do Natal. Mas você sabia que nos EUA ele foi lançado com o título de ‘Beatles’65’, com outra capa e outro texto descritivo?

  2. Lembram do encontro com Dylan? Lennon disse que I’m a Loser e I Don’t Want to Spoil the Party, duas das sete canções originais de ‘Beatles For Sale’, foram influências diretas do rapaz do folk.

HELP!

  1. No LP seguinte, ‘Help!’, a influência persistiu. You’ve Got to Hide Love Away, de Lennon, é “quase uma imitação”, como diria Paul, da canção I Don’t Believe You, de Dylan.

  2. Vários títulos foram rejeitados para o filme Help!, incluindo uma tosca canção intitulada Eight Arms to Hold You (“Oito braços para segurar você”). E assim como em ‘A Hard Days Night’, o diretor Richard Lester encomendou uma canção-título e Lennon entregou o que julgou uma de suas composições favoritas.

  3. Depois do lançamento do compacto com Ticket to Hide e do filme Help!, no primeiro semestre de 1965, e ainda antes do LP homônimo, Lennon lançou seu segundo livro de ficção, esquisitices e poesia, intitulado A Spaniard in the Works.

  4. A Variety divulgou que, em agosto de 1965, os Beatles tinham vendido 150 milhões de discos e que ao final do ano a estimativa chegaria a 200 milhões, superando o total de discos vendidos por Elvis Presley em toda a sua carreira.

  5. Yesterday foi a primeira canção em que apenas um beatle toca sozinho, no caso, McCartney.

  6. ‘Help!’ traz outra particularidade: Dizzy Miss Lizzy, de Larry Willians, foi o último cover gravado em LP pelos Beatles.

  7. O show no Shea Stadium, em Nova York foi sem precedentes na história da música pop. Reuniu 55 mil fãs ensandecidos, em agosto de 1965.

Show no Shea Stadium. Sem precedentes!

  1. Se os Beatles encerraram a turnê de 1964 chapados com Dylan, em 1965 foi com Elvis Presley. O coronel Tom Parker, que empresariava Elvis, tentara esse encontro há mais de ano, já que seu cliente não emplacava um disco nas paradas desde 1963 e até então rejeitara ver de perto quem lhe roubara a fama. Foi o primeiro e único encontro deles, já que o rei do rock recusara a retribuição ao convite dos Beatles, pouco tempo depois.

RUBBER SOUL

  1. Para gravar ‘Rubber Soul’, os Beatles pediram tempo ilimitado do estúdio da Abbey Road, para gravar com calma. E assim tomaram todo o mês de outubro e, com o combinado do lançamento em meados de novembro, precisaram acelerar a gravação das últimas três canções do álbum em uma maratona das 18h até as 7h do dia seguinte.

  2. Após ‘With the Beatles’ (lançado nos EUA com o nome de Meet The Beatles), a capa de ‘Rubber Soul’ foi apenas a segunda a repetir a mesma foto na Grã-Bretanha e nos EUA. A diferença foi no conteúdo. Nos EUA, a Capitol dispensou quatro faixas e incluiu duas do álbum ‘Help!’: I’ve Just Seen a Face abriu o Lado A e It’s Only Love, o Lado B.

  3. A tradução ao francês de trechos de Michelle foi providenciada por Jill Vaughn, professora de francês e esposa do velho amigo de Paul na escola, Ivan Vaughn.

  1. Duas canções do ‘Rubber Soul’ são resgates de outros tempos. A fraca What Goes On datava da época dos Quarry Man, reformulada para Ringo cantar. E Wait foi rejeitada no álbum ‘Help!’´e também refeita até inclusão no ‘Rubber Soul’.

  2. Run For Your Life, que fecha ‘Rubber Soul’, foi uma homenagem clara de Lennon a Elvis Presley, em alusão à música Baby Let’s Play House, de 1955.

  3. Os Beach Boys chegaram a fazer sessões de oração no estúdio pedindo a Deus um álbum melhor do que ‘Rubber Soul’. Um ano depois viria ‘Pet Sounds’.

  4. A mesma jornalista que publicou a primeira matéria nacional sobre os Beatles em 1963, Maureen Cleave, foi também quem escreveu o mais abrangente texto sobre os quatro, já em março de 1966, para o Evening Standard. Um perfil completo de como vivia cada beatle. E foi no perfil de Lennon onde saiu a desastrosa frase: “Somos mais populares que Cristo”.

  5. Vejam como o mundo é pequeno. Paul se casou com Jane Asher, que é filha da antiga professora de música de George Martin, que é mãe de Peter Asher, da dupla pop Peter & Gordon, que dois anos antes recebeu de presente uma sobra nas composições de Lennon-McCartney intitulada World Withaut Love, quando Paul nem conhecia Jane. Ah, e o compacto com essa canção vendeu milhões de cópias e chegou ao primeiro posto nos EUA!

  6. Em 1965, o poeta beat Allen Ginsberg pediu a um amigo comum que chamasse os Beatles para seu aniversário. Mas o encontro foi breve. Lennon e Harrison chegaram à festa com suas esposas e foram recebidos por um Ginsberg nu, apenas com uma placa “Proibido estacionar” sob suas partes genitais. Bateram em retirada.

  7. Lennon e Harrison provaram LSD pela primeira vez na primavera de 1965. A iniciação se deu num jantar oferecido pelo dentista deles, que colocou a droga sorrateiramente no café. Depois Ringo e os dois provaram junto aos Byrds. E nos meses seguintes, Lennon e Harrison tomaram regularmente. McCartney veio tomar apenas no outono de 1966.

REVOLVER

  1. Para gravar ‘Revolver’, em abril de 1966, foram necessárias 300 horas de gravação em Abbey Road, o triplo do tempo usado para ‘Rubber Soul’.

  1. Mesmo antes da finalização de ‘Revolver’, a Capitol pressionou o lançamento de um compacto que se chamaria ‘Yestarday and Today’, aproveitando o mega sucesso de Yesterday. Provavelmente enraivecidos pela pressão, os Beatles enviaram uma foto de capa vestidos em jalecos de açougueiro manchados de sangue, ostentando pedaços de carne crua e corpos desmembrados de bonecas. E o álbum foi lançado com grandes tiragens!

  2. Sabia que antes de se chamar ‘Revolver’, cogitou-se chamar o sétimo álbum dos beatles de Abracadabra ou Magic Circles?

  3. Os Beatles pareceram deixar sinais propositais no ‘Revolver’ de que mudanças de comportamento aconteceram na banda, sobretudo baseado na crescente individualização de cada um. 1) O álbum veio com rótulo de vocal principal ao lado do nome de cada canção. 2) Foi o primeiro álbum iniciado com uma composição de Harrison. 3) Ao contrário do “one, two, three, for” animado que inicia o Please Please Me, um repeteco tristonho, no Revolver. 4) Além de uma capa diferenciada, cheia de retalhos.

  4. Casa de ferreiro, espeto de pau. O solo de Taxman, composição de Harrison, é na verdade de Paul, que repetiria a dose na guitarra novamente em Good Morning, Good Morning, no ‘Sgt. Peppers’.

  5. McCartney afirmou que Eleanor Rigby se tratava de uma menina chamada Daisy Hawkins, a princípio, assim como o padre era “padre McCartney”, depois alterado para MacKenzie, pois Paul pensou no trauma que o pai teria em aparecer numa canção tão solitária.

  6. A última música do ‘Revolver’ se chamaria Mark 1. Outra curiosidade sobre Tomorrow Never Knows? Sendo uma expressão usual de Ringo, seria, a princípio, o nome do filme Help! Mais uma? A solicitação de Lennon para George Martin elaborar os arranjos da música foi única. John pediu que a música soasse como um “dalai lama”.

  7. Em setembro de 1966, vindos da turnê americana, veio o primeiro “ensaio da separação”. A banda decidiu-se por três meses afastados. Nesse período, Lennon interpretou personagem no novo filme de Richard Lester, How I Wond The War. McCartney e George Martin trabalharam na trilha sonora do filme The Family Way. Harrison embarcou para a Índia. E Ringo, voltou pra casa, simplesmente.

Cena do videoclipe para Strawberry Fields Forever

  1. Após rumores incessantes do fim da banda, principalmente pela falta do costumeiro álbum de outono, em 1966, e o cancelamento e fim dos shows ao vivo, os Beatles decidiram se reunir em novembro para gravar um novo disco. A ideia inicial era algo autobiográfico, com lembranças de Liverpool. Lennon já tinha pronta Stramberry Fields Forever, título tirado de um orfanato do Exército da Salvação, perto de sua ex-casa.

  2. Em 1967, os Beatles renovaram o contrato com a EMI (Grã Bretanha) e a Capitol (EUA). Pela primeira receberiam 7,5% da vendagem dos discos. Pela Capitol, pouco menos de 9% mais um bônus de 2 milhões de dólares pela assinatura do contrato, que versava a entrega de 65 canções no período máximo de nove anos. O percentual foi o maior oferecido pelas gravadores até então. Houve exigência de Brian Epstein de que as capas dos LPs fossem iguais nos dois países.

  3. Um terceiro filme foi cogitado em 1967. Consideraram os Beatles interpretando quatro caubóis ou refilmando Os Três Mosqueteiros (Ringo como D’Artagnan), mas foi o considerada a oferta do produtor de televisão Al Brodax de filmar uma animação inspirada em Yellow Submarine. Outra oferta aceita em 1967 foi uma biografia autorizada, escrita por Hunter Davies, jornalista do Sunday Times.

  4. A ascensão do compacto ‘Good Vibrations’, do Beach Boys, aliado à demora pelo lançamento de novo material desde ‘Revolver’ fez com que os Beatles lançassem o compacto com Strawberry Fields Forever e Penny Lane em fevereiro de 1967, abandonando a ideia de um álbum biográfico. Além dessas duas canções, When I’m Sixty-Four também estava pronta.

  5. Penny Lane era o nome da rua em que os caminhos de Paul, John e George se cruzavam para irem ao Art College ou Liverpool Institute. O lançamento da canção provocou um editorial elogioso no London Times sem precedentes.

  6. Após três meses separados e sob decisão do fim das turnês, os Beatles viveram uma aura de separação, e um dos fatores para nova união foi o ingresso de McCartney no LSD, até então o único beatle abstêmio à droga e já sendo visto com antipatia, sobretudo por John e George, usuários frequentes. Resultado? A volta pulsante da parceria Lennon-McCartney e um álbum histórico.

SGT. PEPPERS

  1. Sem o projeto de canções liverpoodianas, a canção Sgt. Peppers surgiu como inspiração para que a banda fugisse da persona beatle e incorporasse a Banda do Sargento Pimenta nas gravações. E verdadeiras cenas nonseses aconteceram. Para A Day in the Life, por exemplo, foi contratada uma orquestra de nada menos que 40 integrantes para preencher os intervalos da música. E para gravação, os beatles convidaram amigos, providenciaram mesas de comida e bebida e, aos músicos, trajados formalmente, foram dados chapéus de festa, narizes de palhaço, perucas e patas falsas de gorila. E ainda ligaram uma máquina de fazer bolhas, e começaram a gravar.

70. O pioneiro da pop-art na Grâ-Bretanha, Peter Blake, foi selecionado para elaborar a capa do ‘Sgt. Peppers’. Os uniformes militares berrantes da banda já estavam desenhados, assim como a ideia sugerida por Paul: “Retratar uma banda que acabou de tocar no coreto de um parque, com canteiro de flores próximo e pessoas ao redor”. Ou seja: a principal contribuição de Blake foi pedir a cada beatle que selecionasse quais pessoas gostaria de ver na capa. Pediu ainda que cada um trouxesse um objeto de estima. Paul trouxe instrumentos de sopro. John, a TV favorita. Blake também requisitou estátuas de cera dos Beatles no museu Madame Tussaud, de Londres. Tudo na capa do álbum.

  1. A “multidão” ao redor dos Beatles na capa do ‘Sgt. Peppers’ tem de atrizes, filósofos, escritores, poetas, dramaturgos, comediantes, lutador, o ex-beatle Stuart Sutcliff e, curiosamente, apenas dois músicos: Bob Dylan e Dion, do grupo Dion & The Belmonts, escolhido pelo próprio Blake. Gandhi estava na foto original, mas foi retirado depois a pedido da EMI, receosa com a reação da subsidiária indiana. Outro “convidado” foi Adolf Hitler, a pedido de John, e sacado por motivos óbvios.

  2. A recepção pública dada a ‘Sgt. Peppers’ foi a maior da história pop, comparada a outros dois lançamentos de obras-primas do século 20: a estreia do musical Oklahoma!, em 1943, de Rodgeres e Hommerstein, e ainda da premiére do ícone jazzístico, Rhapsody in Blue, de 1927.

  3. Um grito da plateia no meio da música Sgt. Peppers é autêntico e foi retirado de uma fita da apresentação dos Beatles no Hollywood Bowl, em 1964.

  4. Antes do último coro de Sgt. Peppers, Paul solta um grito ondulante que diz: “Bil…ly… Shears, que seria o personagem de um cantor que não sabe cantar de verdade e que interpretará o número seguinte, que é With Little Help From My Friends, que entra emendada a Sgt. Peppers.

  5. She’s Leaving Home foi uma sequência propositada de Eleanor Rigby e mais uma vez preocupada com as condições dos idosos da Grã-Bretanha.

  6. Depois de Yesterday, com Paul, Within You Without You foi a segunda música da banda com apenas um beatle na execução, neste segundo caso, com George, acompanhado de um grupo de músicos do Asia Music Circle.

  7. Duas semanas após o lançamento meteórico de ‘Sgt. Peppers’ foi organizado um evento com intuito de apresentar o novo pop mundial cujo conselho foi formado por Paul, Mick Jagger, Smokey Robinson e Brian Wilson e promovido por empresários descolados de Hollywood. O First Internacional Pop Festival aconteceu em Monterey e trouxe, entre outros, uma tal Janis Joplin, além da primeira aparição do Jimi Hendrix Experienced nos EUA (recomendada por McCartney) e a volta do The Who. Muitos presentes esperavam show dos Beatles porque no setlist havia uma “banda a confirmar”.

  1. All You Need is Love foi uma das canções mais rapidamente disseminadas até julho de 1967, quando foi lançada em compacto. Isso graças à sua exibição em um especial internacional de televisão chamado Our World, concebido em comemoração a recente conclusão da primeira rede de satélites capaz de enviar um sinal de televisão ao redor do mundo.

  2. 1967 foi o ano da epidemia das drogas ilegais. Em uma batida policial na casa do guitarrista dos Rolling Stones, Keith Richards, foram encontradas drogas e foram presos Richards, Jagger e o galerista Robert Fraser. Tempos depois, George Harrison disse que se deu conta que a polícia tinha sido atenciosa o bastante para esperar que ele saísse da festa para iniciar a busca. Outro detalhe: um anúncio de página inteira publicado no Times e financiado por Brian Epstein e os Beatles libertaria os dois Stones da prisão, após ampla manifestação e abaixo-assinado favorável à legalização da maconha.

  3. O encontro dos Beatles com Maharishi Yogi foi uma sucessão de erros. Começou com Cinthia Lennon esquecida no saguão de embarques. Depois, após almoçarem num restaurante, a constatação de que nenhum dos milionários presentes tinha dinheiro para pagar a conta. E quando estavam em um dormitório universitário em Bangor, a convite do Maharishi, receberam telefonema de que Brian Epstein havia sido encontrado morto em seu quarto, em Londres.

MAGICAL MISTERY TOUR

  1. Nos anos 60 era comum filmagens caseiras com a proliferação de novos equipamentos e a sensação de que todos podiam ser cineastas. Mas daí a Paul chegar a mostrar suas filmagens domésticas a Michelangelo Antonioni enquanto este filmava Blow-up, em Londres, ou pior: daí aos quatro Beatles pensarem que podiam elaborar um filme sozinhos? O resultado foi Magical Mistery Tour.

  2. Hello Goodbye e I Am the Walrus fecharam com maestria a trilogia de compactos lançado em 1967. Hello Goodbye se tornou um dos sucessos mais duradouros dos Beatles na Grã-Bretanha, permanecendo em primeiro lugar por seis semanas.

  3. O primeiro verso de I Am the Walrus foi escrito após uma viagem de ácido em um fim de semana. E o segundo verso, no fim de semana seguinte, segundo o próprio Lennon. Mas a canção pode ser classificada como a mais literária dos Beatles, com referências a Shakespeare e Edgar Allan Poe, além de personagens alusivos à literatura de Lewis Carroll.

  4. Em dezembro de 1967, mês de lançamento do filme Magical Mystery Tour, George concordou em compor a trilha sonora do filme Wonderwall, Ringo passou uma semana em Roma para filmar uma ponta de jardineiro mexicano no filme Candy, e Paul oficializou noivado e passou férias em fazenda recém-comprada na Escócia. O filme foi detonado pela crítica.

  5. Com Magical Mistery Tour e o período psicodélico para trás, nos primeiros meses de 1968 os Beatles se concentraram em gravar um compacto. Em respeito à alternância de autoria do Lado A e após Hello Goodbye, de McCartney, encabeçar o último compacto, seria a vez de Lennon, que chegara com Across The Universe, para dividir o disco com Lady Madonna. Mas após inúmeras tentativas de arranjos sem concordância de John, a canção foi adiada. Lady Madonna liderou o compacto ao lado de The Inner Light, de Harrison.

  6. Ainda em fevereiro de 1968, os Beatles fariam a programada viagem à Índia do Maharishi. Ringo demorou dez dias por lá, insatisfeito com a comida e as moscas. McCartney, um mês depois, entediado com a rotina. John e George duraram mais três semanas após a partida de Paul após um amigo denunciar que o sábio Maharishi assediava as mulheres do curso de Regeneração Espiritual, que todos cursavam.

  1. Se a primeira viagem dos quatro Beatles juntos foi em outubro de 1960, a viagem à Índia, em fevereiro de 1968, foi a última fora da Grã-Bretanha.

  2. Breve histórico de Yoko Ono, antes de entrar na vida dos Beatles: quando seu marido Toshi retornou ao Japão, ela continuou em Nova York para manter caso com um dono de galeria e conseguir espaço para mostrar sua “arte”. Sem sucesso com seu trabalho, se juntou ao marido no Japão. Destroçada pelas críticas também no Japão, ela tentou suicídio e passou meses num hospital psiquiátrico. Depois da alta, o casal foi morar com um amigo de Toshi, o cineasta Tony Cox, ainda no Japão. Yoko engravidou, se separou de Toshi e se casou com Cox. Quando nasceu sua filha Kyoko, ela começou outro caso com amigo de Cox, que voltou para Nova York com Kyoko. Meses depois houve a reconciliação, em 1964. Em 1967, Yoko conheceria John. E aí…

  3. Seis meses antes da viagem à Índia, John e Yoko começaram um caso. De volta à Londres, John presentou sua mulher Cinthia com uma viagem à Grécia. Quando ela voltou encontrou Yoko com seu roupão, bebendo chã na cozinha de sua casa. O divórcio nada amigável com John viria depois. Yoko largou marido e filha para ficar com o beatle.

90. A presença incômoda de Yoko até rendeu bons frutos. Cansados da situação, cada beatle tomou um rumo, compôs suas próprias músicas e até gravaram muitas em separado. O resultado viria mais tarde no chamado ‘Álbum branco.

  1. A estreia do filme Yellow Submarine, em julho de 1968, marcou o último suspiro da beatlemania como fenômeno público na Grã-Bretanha, quando milhares de fãs pararam o Piccadilly Circus na noite de abertura.

  2. No fim de 1968, a gravação de Mary Hopkins da música folclórica eslava Those Were the Days, produzida por McCartney chegou ao topo das paradas na Grã-Bretanha e alcançou o segundo posto nos EUA, porque o primeiro lugar ficou com a balada Hey Jude, que encabeçava o novo compacto dos Beatles, tendo ainda Revolution no lado B.

  3. Hey Jude foi o compacto mais popular já lançado pelos Beatles, permanecendo nove semanas na primeira posição nos EUA, duas a mais que I Want to Hold Your Hand. Isso apesar dos sete minutos de duração.

. A foto doméstica de Lennon e Yoko nus, tiradas pelos próprios com o timer da máquina, chegou à capa da edição de 21 de outubro da Private Eye. A foto serviria para a capa do LP Two Virgens, a ser lançado pela Appple com uma série de montagem de John e Yoko. Com o lançamento do disco por selos independentes, consultores financeiros dos Beatles, envergonhados, se demitiram. Era o começo da derrocada financeira da banda.

Two Virgins
  1. O clima tenso entre os Beatles, muito provocado pela presença de Yoko no estúdio, fez George partir antes do término da gravação do Álbum Branco. Como retaliação, John e Paul excluíram a canção Not Guilty, do disco. Na verdade, essa canção de Harrison nunca mais seria gravada.

  2. Em outubro de 1968, John e Yoko foram presos após batida policial em seu apartamento. Foram avisados antes por um amigo e eliminaram toda a heroína que consumiam, mas esqueceram haxixe num estojo de binóculos. Pagaram fiança e logo saíram. Para apagar a imagem, anunciaram dias depois a gravidez de Yoko, para fevereiro, mas já em novembro ela sofreu aborto espontâneo, e o casal voltou a consumir heroína compulsivamente.

ALBUM BRANCO

  1. O ‘Álbum Branco’ foi lançado em novembro de 1968 com 12 faixas para Paul, 12 para Lennon, 4 para George e 2 para Ringo, sendo 5 das de Paul sendo ele o único instrumentista, inclusive como baterista. Ele também tocou bateria em Dear Prudence, de John. Isso porque Ringo abandonou as gravações por longo período.

  2. Julia trata-se da única e última canção solo de John como beatle; apenas ele e o violão.

  3. Birthday é o único vocal compartilhado entre John e Paul em todas as 30 canções do ‘Álbum Branco’.

  4. O ‘Álbum Branco’ permaneceu oito semanas no primeiro lugar na Grã-Bretanha. Nos EUA as vendas foram tão brutais que estimam como o lançamento mais lucrativo na história das gravações de música pop até hoje, também pela quantidade de canções e consequentes direitos autorais.

  5. Em 1968, Jean Luc Godard quis filmar os Beatles trabalhando em estúdio, como parte de um filme. Com a recusa, o cineasta procurou e fez com os Rolling Stones. O filme estreou em dezembro daquele ano com o nome de One Plus One.

  6. Partiu de Paul a ideia de retomar as apresentações ao vivo dos Beatles em 1969, como forma de resgatar a camaradagem do grupo. Com a recusa de John e, principalmente de George, Paul sugeriu então de um único show que resultaria no primeiro álbum ao vivo dos Beatles, enquanto o processo de feitura das canções em estúdio se transformaria em um filme, ambos chamados Get Back. No fim, decidiram-se pelo show na laje do prédio da Apple. Antes dessa ideia, cogitaram fretar um navio e encher de fãs e até tocar na boca de um vulcão.

No telhado da Apple
  1. Em janeiro de 1969 foi lançado o álbum com a trilha sonora de Yellow Submarine. O atraso de dois meses após o filme foi proposital, para não competir com o ‘Álbum Branco’, que ainda rendia no topo das paradas. Mas o mais importante é que, com mais quatro faixas inéditas, Yellow Submarine encerrava o contrato dos Beatles com a EMI e a Capitol de entregar 60 canções originais, firmado em janeiro de 1967.

  2. No dia seguinte ao show na laje da Apple, os Beatles se reuniram no estúdio para gravar duas baladas que Paul trouxera: Let it Be e The Long and Winding Road, esta última com John no baixo. Ao fim dessa sessão, tanto o filme quanto o álbum foram arquivados e assim permaneceu pelo resto do ano de 1969.

  1. Em vez do álbum foi lançado o compacto com Get Back e Don’t Let Me Down. O disco se tornou o primeiro lançado na Grã-Bretanha a entrar nas paradas direto em primeiro lugar. O solo de guitarra em Get Back é de John, já que George abandonou as gravações após discussões. Dias depois John e Paul voltaram à Abbey Road para gravar The Ballad of John and Yoko, e Paul retribuiu a gentileza tocando bateria, baixo, percussão, piano e ainda cantando a segunda voz.

  2. Em maio de 1969, John e Yoko reuniram em um apartamento de Montreal, jornalistas e artistas da contracultura, como Allen Ginsberg e Timothy Leary para apresentar a nova canção Give Peace a Change, mais uma canção gravada ainda na era beatle e lançada após o término da banda, já no álbum ‘Plastic Ono Band’, de Lennon.

  3. Junho de 1969 foi de férias aos Beatles. Mas antes, George Martin reservou os meses inteiros de julho e agosto em Abbey Road para gravação de mais um álbum. Mas no primeiro dia de julho, John e Yoko sofrem acidente de carro e passam semanas de recuperação, também da abstinência em heroína. Enquanto isso, Paul passou horas refinando o vocal de You Never Give Me Your Money. Só no segundo dia George e Ringo se juntaram a ele. Mas inusitado foi a chegada de uma cama de casal ao estúdio no nono dia, seguida das presenças de John e Yoko, ainda enferma.

  4. As tensões no grupo persistiam e John chegou a sugerir um lado do disco só com suas canções e outra com as de Paul. Paul deu a ideia pacificadora de Lennon decidir a sequência de um lado e George Martin, o outro. E Martin, então, idealizou uma continuidade temática e harmônica de seis canções dominada por Paul e que finalizaria o último trabalho na história da banda.

  5. Numa noite de segunda-feira, na segunda semana de agosto, foram gravados os vocais de I Want You (She’s so Heavy) e marcaria o último registro vocal de John, Paul e George juntos.

  6. Após o fenômeno de Woodstock, em setembro de 1969, Lennon recebe convite para apenas comparecer ao festival Rock’n Roll Revival, que teria Chuck Berry, Little Richard e aconteceria em Toronto no dia seguinte. John aceitou, mas para tocar. E com ele, uma banda que John anunciou como Plastic Ono Band, formada por Eric Clapton na guitarra, o velho amigo Klaus Voorman no baixo e Alan White na bateria. Sem tempo para ensaios, tocaram toscamente Blue Suede Shoes, Money, Yer Blues, Cold Turkey (nova canção de Lennon que também integraria seu álbum solo) e Give Peace a Chance. No voo de volta a Londres, John disse a Clapton, Voorman e Allen Klein que iria sair dos Beatles. Este último, que comandava os negócios da banda, pediu para guardar a decisão por ora.

ABBEY ROAD

  1. Na terceira semana de setembro, os Beatles estavam reunidos na Apple para assinar contratos quando Paul sugeriu uma série de shows surpresa em pequenos lugares. John foi sucinto: “Acho que você está doido”. E acrescentou: “Estou deixando os Beatles”. Quando o álbum ‘Abbey Road’ foi lançado em 26 de setembro, os Beatles balançavam à beira da extinção.

  2. A ideia de capa e o nome do álbum ‘Abbey Road’ partiu de Paul. A foto foi clicada por Iain Macmillan. Tal qual Sgt. Peppers – outra reverenciada capa de disco da indústria fonográfica – McCartney sabia o que estava fazendo. Título bem melhor que ‘Everest’, como chegou a ser cogitado.

  3. Come Together foi a última parceria musical de Lennon e McCartney, posto que as outras canções do ‘Abbey Road’ foram composições solos. A canção foi proposta por Lennon como um blues animado. Paul sugeriu desacelerar, além da mudança de um dos versos.

  4. O maior clássico de George e uma das maiores canções de amor da história pop, Something tem seu primeiro verso copiado do título de uma composição de James Taylor: Something in the Way She Moves. Os acordes e a melodia da música foram compostas ainda durante as sessões do ‘Álbum Branco’. A música foi gravada por Ray Charles, Frank Sinatra, Elvis Presley e outros ícones.

  5. O ‘Abbey Road’ foi o único álbum entre os dez lançados pelos Beatles a, curiosamente, acabar com uma música de McCartney. E na verdade, um medley que serviu de epílogo à banda, inclusive com a última canção titulada The End. E não foi coincidência. Antevendo o provável fim dos Beatles, McCartney se inspirou em quadras que Shakespeare e outros dramaturgos elisabetanos encerravam suas peças.

  6. Depois do último acorde de The End e após 30 segundos de silêncio, de novo Paul ressurge com uma frase das mais enigmáticas. Traduzida, diz: “Sua majestade é uma moça muito simpática, mas não tem muito que dizer”.

  7. ‘Abbey Road’ foi lançado em setembro de 1969 e, se as críticas foram as mais variadas de todos os álbuns dos Beatles, o resultado comercial foi nada menos que espetacular: liderou as paradas por 17 semanas na Grã-Bretanha, 11 nos EUA e vendeu cerca de 4 milhões de cópias só nos últimos meses de 1969.

  1. A capa de ‘Abbey Road’ com Paul sendo o único beatle descalço reforçou rumores fortes de que ele estava morto. A notícia correu o mundo e só foi negada quando o beatle foi entrevistado pela Life e cedeu outra manchete bombástica e enigmática: “Fazemos boa música e queremos continuar fazendo. Mas essa coisa dos Beatles acabou. Implodiu, em parte, pelo que nós fizemos, em parte pelo que outros fizeram”.

  2. No fim de 1969, uma série de assassinatos provocados por Charles Mason, ou à Família Mason, foi justificada por uma visão apocalíptica baseada na crença de que os Beatles representavam os Quatro Cavaleiros descritos no Apocalipse, e que suas músicas, particularmente o ‘Álbum Branco’, estavam repletas de mensagem dirigidas a Mason e seus seguidores.

  3. No fim de 1969, Ringo se concentrou na gravação de um álbum solo intitulado ‘Sentimental Journey’. Paul e George Martin participaram como arranjadores. Em dezembro, Harrison e Eric Clapton saíram em turnê pela Europa como banda comandada pelo casal Bonnie e Delaney Bramlett. McCartney resolveu gravar faixas para um álbum solo em sua casa. John e Yoko seguiam sua campanha pela paz.

  4. Para o filme Get Back foi recomendado por Allen Klein – homem dos negócios dos Beatles e pivô de muitas confusões – que aparecesse só os Beatles. A exceção ficou para uma sessão de dança entre John Yoko ao som de I Me Mine, de Harrison. Por isso, a música precisou entrar no álbum com a trilha sonora. E como não havia sido gravada, George, Paul e Ringo se reuniram na primeira semana de 1970 para gravá-la. John preferiu não comparecer. Foi a última gravação oficial dos Beatles enquanto banda.

  5. No fim de janeiro, John gravou a canção Instant Karma, durante seção rítmica da Plastic Ono Band e acompanhado de Harrison.

  6. Em fevereiro de 1970, Ringo concluiu ‘Sentimental Journey’ e Paul, usando pseudônimo, reservou horário na Abbey Road para mixar e masterizar seu álbum solo, concluído em março com simples título de ‘McCartney’.

  7. Em março, a Apple lançou a balada Let it Be. Foi o primeiro compacto dos Beatles em 1970 e a última grande canção dos Beatles, prejudicada pelo concomitante lançamento de Bridge Over Troubled Water, de Simon & Garfunkel. Assim, Let it Be alcançou apenas o segundo lugar na Grã-Bretanha e, duas semanas depois, o primeiro, nos EUA.

  8. Com o lançamento de ‘Sentimental Journey’, de Ringo, agendado para abril e ‘Let it Be’ para maio, Paul driblou o desafeto Allen Klein e a Apple e assinou com a EMI para lançar ‘McCartney’ em abril, competindo com os outros dois álbuns. Os outros três beatles assinaram carta pedindo adiamento à EMI. Ringo tentou persuadir Paul para isso. A tensão chegou ao insuportável.

  1. Em 10 de abril, uma semana antes do lançamento de ‘McCartney’, Paul enviou pessoalmente cópias promocionais do disco à imprensa. O pacote incluía uma entrevista de autoria própria. Nela, Paul responde que só o tempo dirá se aquele álbum era um descanso do trabalho com os Beatles ou o começo de uma carreira solo. Responde com um categórico “Não” para a pergunta se Lennon e McCartney voltariam a compor juntos. Essa também foi a resposta à pergunta se ele sentia falta dos outros Beatles e de George Martin. Uma semana depois, a Apple emitiu comunicado informando a saída de Paul dos Beatles devido a “diferenças pessoais, musicais e profissionais”.

  2. No fim de 1970, todos os quatro ex-beatles tinham lançado álbuns solos. ‘Sentimental Journey’, de Ringo, foi massacrado pela crítica. Harrison lançou em novembro seu melhor trabalho na década, o álbum triplo ‘All Things Must Pass’. Em dezembro foi a vez de Lennon com ‘Plastic Ono Band’. Além, claro, de ‘McCartney’, de Paul.

  3. Sem dúvida a carreira mais bem sucedida entre os quatro foi a de Paul, que durante a década de 1970 lançou um álbum por ano, sendo sete com a banda Wings e todos vendendo na casa dos milhões. Mas foi o compacto Mull of Kintyre, de 1977, o ponto alto, sendo o mais vendido da história da indústria fonográfica britânica.

  4. Depois da separação os quatro beatles nunca mais estiveram juntos. Uma possível reunião poderia ter acontecido no Concerto por Bangladesh, organizado por Harrison. Ringo compareceu, mas McCartney recusou o convite e John, que a princípio aceitara o chamado, desistiu depois da insistência de George para que Yoko não fosse.

  5. O fim definitivo dos Beatles aconteceu em 8 de dezembro de 1980, quando Lennon foi assassinado em frente ao edifício Dakota, em Nova York, onde morava. Um ano e quatro meses depois, McCartney expôs sua reação à essa tragédia com talvez o melhor disco de sua carreira, ‘Tug of War’ e a canção Here Today, em homenagem a John. Em um trecho, ele diz: “I am holding back the tears no more: i love you” (Não vou mais segurar as lágrimas: te amo).

 

 

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