Expressões populares e suas origens
Você sabe o que quer dizer quando “tudo acaba em pizza”? E “fazer vaquinha”, você sabe o que é? Conheça a origem de 25 expressões populares brasileiras.
Existem algumas expressões populares que fazem parte de nosso dia a dia e que a gente nem imagina como surgiram e, muitas vezes, nem o que significam.
Um bom exemplo dessas expressões populares, são aquelas que têm um dublo sentido, um significado oculto por trás das palavras e que se referem a coisas que só quem nasceu aqui (ou onde os ditados tiveram origem) entendem.
“Fazer uma vaquinha”, “terminar em pizza”, “a cobra vai fumar” são apenas algumas dessas expressões que você vai conferir na lista abaixo.
Confira a origem de algumas expressões populares do Brasil:
171
Esse termo que caiu na boca do povo para classificar os estelionatários e trambiqueiros em geral faz referência ao artigo 171 do Código Penal brasileiro.
O texto estipula: “Obter, para si ou para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”.
Está tudo como dantes no quartel D’abrantes
No início do século 19, Portugal foi tomado pelas forças de Napoleão Bonaparte por não obedecer a ordem de fechar seus portos aos ingleses.
Uma das primeiras cidades a ser invadida foi Abrantes, onde o general Jean Andoche Junot instalou seu quartel sem grandes dificuldades. Como dom João VI e toda a corte portuguesa haviam fugido para o Brasil e a população não resistiu à invasão, a tranquilidade com que o general mantinha seu poder fez nascer a expressão “Está tudo como dantes no quartel d’Abrantes”, já que por lá nada parecia ter mudado.
Corredor Polonês
Esse foi o nome dado à faixa de terra transferida da Alemanha para a Polônia em 1919, após o Tratado de Versalhes – o acordo de paz assinado após a 1ª Guerra.
Com a ascensão do partido nazista e a chegada de Hitler ao poder, as forças armadas alemãs tomaram a região em 1939. Os poloneses foram encurralados pelo exército de Hitler, posicionado dos dois lados do “corredor”. Hoje, a expressão é usada para nomear uma passagem estreita formada por duas fileiras de pessoas.
Pagar o pato
Vem da obra Facetiae, do italiano Giovanni Bracciolini (1380-1459). O texto do autor, figura importante no Renascimento italiano, conta a história de um camponês que vendia patos e certa vez uma mulher queria pagar os animais por meio de encontros sexuais com o vendedor. Na história, ambos foram surpreendidos pelo marido (quase) traído, que, por não concordar com o trato, pagou o pato em grana e encerrou a questão.
Chutar o balde
Não há registro confirmado, mas alguns estudiosos afirmam que a origem dessa expressão está na execução pela forca. No passado, os condenados ficavam em pé sobre um bloco, colocavam a colocavam a corda ao redor do pescoço, e aí o bloco era retirado para que ele fosse enforcado.
O bloco nem sempre era um bloco, claro. Forcas profissionais tinham escadas, às vezes alçapões – enfim, diferentes recursos para “tirar o chão” do enforcado.
Supostamente, um balde também teria servido de substituto – e era chutado pelo executor na hora da morte.
Há também a lenda de que a expressão teria nascido a partir do chute que uma vaca dá no balde de leite, quando não está feliz com a ordenha.
Voto de minerva
Essa é uma adaptação latina da mitologia grega. Na história, o mortal Orestes matou sua própria mãe e o amante dela para vingar a morte de seu pai, Agamenon.
Para escapar da pena capital – a morte -, Orestes pediu ajuda ao deus Apolo, que atuou como seu advogado em um julgamento presidido por Atena (que tem o nome de Minerva, na versão romana).
Como a votação do júri formado por 12 cidadãos terminou empatada, foi Atenas/Minerva, deusa da Razão e da Justiça, quem deu o voto decisivo, inocentando o camarada Orestes.
Calcanhar de Aquiles
O ponto fraco de algo ou alguém é chamado de “calcanhar de Aquiles” por conta da fraqueza desse herói da mitologia grega. Aquiles era um mortal, filho do rei Peleu e da deusa Tétis.
Na intenção de torná-lo imortal, sua mãe o mergulhou no rio Estige, segurando-o pelo calcanhar – único local que as águas não o tocaram e, portanto, a única parte vulnerável de seu corpo. Na Guerra de Troia, Aquiles teria sido flechado justamente no calcanhar por Páris, que conhecia essa fraqueza.
Andar à toa
A inspiração vem das navegações. A palavra toa deriva do termo inglês “tow”, que é a corda utilizada para o reboque de embarcações.
Ao se aproximarem de um porto, os grandes navios são conduzidos por um barco pequeno, que os reboca pela toa. Enquanto são guiados, os marinheiros da embarcação maior não têm o que fazer e ficam à (mercê da) toa. No século 17, os portugueses já usavam a expressão com o sentido de fazer algo despreocupado, sem esforço.
O termo em inglês vive até hoje, com o significado original: tow truck é o nome dado aos guinchos de veículo. Andando dentro de um veículo guinchado, você não está dirigindo – está, literal e figurativamente, à toa.
Segurar vela
Essa expressão vem desde a época em que as velas eram a principal fonte de iluminação das casas. Na Idade Média, quando ainda não existiam as lâmpadas a óleo, as pessoas menos experientes seguravam uma vela para que os mais experientes pudessem executar qualquer tipo de trabalho braçal no escuro.
Na França, a expressão “tenir la chandelle” se refere a criados que eram obrigados a segurar candeeiros enquanto seus patrões mantinham relações sexuais. Mas o serviçal deveria ficar de costas para manter a privacidade…
Bode expiatório
Essa história de receber a culpa por algo que você não fez está registrada no capítulo 16 de Levítico, na Bíblia. No chamado Dia da Expiação, o povo hebreu organizava uma série de rituais de purificação.
Um deles contava com a participação de dois bodes: um dos animais era sacrificado e seu sangue aspergido no santuário. O outro, vivo, se tornava o bode expiatório, pois carregava simbolicamente todos os pecados dos filhos de Israel e era abandonado no deserto, para que todo o mal permanecesse distante do povo.
Bola pra frente
Apesar de não ter origem registrada, a expressão de encorajamento parece mesmo ter nascido no futebol. Quando um time está em uma situação adversa e necessita virar o jogo, o empenho dos jogadores é sempre para que a bola seja tocada adiante e que a equipe permaneça no ataque, em busca do gol. É uma lição para a vida.
Mudar da água para o vinho
Faz referência às Bodas de Caná e ao primeiro milagre de Jesus, relatado com exclusividade no Evangelho de João.
Durante um casamento, Maria procura seu filho preocupada e diz que o vinho havia acabado. Jesus, então, pede aos servos que preencham os vasos com água. Ao provar o líquido, o mestre de cerimônias se depara com o melhor dos vinhos. Uma mudança radical, para melhor, como sugere a expressão.
Negócio da China
Segundo Reinaldo Pimenta, no livro A Casa da Mãe Joana, essa expressão originou-se na época das expedições do mercador veneziano Marco Polo ao Oriente, no século 13. A partir dos relatos do mercador, a China passou a atrair a atenção de outros comerciantes, fruto de sua exuberância e de sua natureza exótica para a época. Em inglês, há a expressão “Chinese deal”, literalmente igual à nossa versão.
Cheio de nove horas
No século 19, 9 horas da noite era uma barreira quase instransponível. Era o horário de se recolher e uma espécie de regulador da vida social brasileira: quem estivesse na rua depois das 21h não era tido como uma pessoa de bem, e sim como um boêmio.
O marido, por exemplo, que não voltasse para casa antes desse horário estaria em apuros. Com o tempo, a expressão cheio de nove horas passou a fazer referência a pessoas meticulosas e cheias de regras.
Ter o rei na barriga
A metáfora que ilustra alguém orgulhoso surgiu na época da monarquia, em razão da sucessão do trono. Quando a rainha ficava grávida, a notícia era muito festejada e a monarca passava a ser tratada de maneira especial, pois ela carregava o futuro rei em seu ventre.
Cercada de tantos cuidados e acostumada com o bem-bom, a rainha passava a ser vista como arrogante aos olhos das outras pessoas. A comodidade era tamanha que esse cuidado também valia mesmo que o bebê em questão fosse um bastardo.
Só para inglês ver
Esse efeito de algo “sem validade, só aparência”, não tem uma origem objetiva e confirmada. O escritor e jornalista Sérgio Rodrigues escreveu sobre a expressão destacando que talvez. origem mais plausível seja a de que, no tempo do Império, as autoridades brasileiras diziam que tomavam providências para combater o tráfico de escravos africanos, fingindo ceder às pressões da coroa inglesa. Mas, na verdade, nunca houve qualquer tipo de atitude em relação ao assunto: era algo para inglês ver.
Sem eira nem beira
Eira é o terreno ao ar livre onde fazendeiros colocam grãos para secar. A beira é a extremidade da eira. Portanto, numa fazenda sem eira nem beira, o vento leva os grãos e deixa o proprietário sem nada. Na região Nordeste, a explicação é outra: antigamente as casas das pessoas abastadas tinham um telhado triplo – a eira, a beira e a tribeira -, enquanto os mais pobres construíam as casas apenas com uma fileira de telhas, ficando sem eira nem beira.
Casa da Mãe Joana
Segundo descreve Reinaldo Pimenta em seu livro A Casa da Mãe Joana, a origem se deve à Joana I, que no século 14 passou de rainha de Nápoles a fugitiva. Seu marido teria sido assassinado em uma conspiração com a própria participação de Joana.
O cunhado dela, Luís I (rei da Hungria), ficou enfurecido e invadiu Nápoles, obrigando a até então rainha a fugir para Avignon, na França. Joana reinou na cidade e resolveu regulamentar os bordéis, que ficaram conhecidos como Paço da Mãe Joana. No Brasil, a palavra paço foi modificada para casa, mais popular.
Fazer vaquinha
Como todo bom brasileiro, essa é uma das expressões populares que mais devem fazer parte da sua vida. Mas, esse não é um ditado atual.
A expressão foi criada pela torcida do Vasco, na década de 1920, quando os torcedores arrecadava dinheiro para distribuir entre os jogadores, caso vencessem o jogo com um placar histórico.
O valor era inspirado em números do jogo do bicho, por exemplo: vitória por 1 x 0 rendia um coelho, número 10 no jogo e que representava, em dinheiro, 10 mil réis. A vaca era o número 25 no jogo e, portanto, representava 25 mil réis, o prêmio mais cobiçado pelos jogadores.
Chorar pitangas
Quer dizer se queixar. O livro Locuções Tradicionais do Brasil diz que essa frase surgiu inspirada na expressão portuguesa “chorar lágrimas de sangue”. A pitanga, vermelhinha, seria como a lágrima de sangue.
Arroz de festa
A expressão se refere ao arroz doce, que durante o século 14 era uma sobremesa praticamente obrigatória nas festas, tanto para portugueses quanto para brasileiros. Não demorou muito para a expressão ser usada para se referir àquelas pessoas que não perdem uma só “boca-livre”.
Terminar em pizza
O termo quer dizer que alguma coisa errada vai ficar sem punição e também teve origem no futebol, mais exatamente na década de 1960. Nessa época, um dos dirigentes do Palmeiras estava há 14 horas em uma reunião sobre assuntos do time quando a fome bateu e o encontro “sério” acabou em uma pizzaria.
Foi um jornalista esportivo, chamado Milton Peruzzi, que acompanhava a reunião pelo Gazeta Esportiva, que usou a expressão pela primeira vez na manchete: “Crise do Palmeiras termina em pizza”.
O termo passou a ser bastante associado à política em 1992, com o impeachment do ex-presidente Fernando Collor. Como o processo de afastamento de um presidente ainda era novidade no Brasil, a maior parte da população não conseguia dizer o termo em inglês, sem contar que muitos não acreditavam que Collor seria realmente punido e acabavam usando a expressão.
Matar cachorro a grito
De acordo com o livro O Bode Expiatório 2, do professor Ari Roboldi, cachorros conseguem ouvir sons inaudíveis para o ouvido humano, tanto de baixa quanto de alta frequência.
Com uma audição sensível dessa forma, os animais poderiam realmente morrer por causa dos sons audíveis. Isso aconteceria porque, aflitos os cães seriam capazes de se chocar contra a parede até a morte.
Chato de galocha
Para quem não sabe, galocha é uma espécie de bota de borracha que se calça por cima dos sapatos em dias chuvosos. Como o calçado, que existe para reforçar os sapatos, esse tipo de chato seria reforçado, quase insuportável e super resistente.
Amigo da onça
Amigo da Onça era um personagem criado pelo chargista Andrade Maranhão para a regista O Cruzeiro. A charge circulou de 1943 a 1961 e se tratava sobre uma pessoa que sempre dava um jeito de levar vantagem sobre as outras, colocando seus amigos em situações embaraçosas.
Paredes têm ouvidos
Outra das expressões populares muito usadas no Brasil, dizer que as paredes têm ouvidos quer dizer que alguém pode estar ouvindo a conversa. Em alemão, francês e chinês existe ditados bem parecidos com este e com o mesmo sentido, como: “As paredes têm ratos e ratos têm ouvidos”.
Há quem diga também que essa foi uma expressão usada para se referir à rainha Catarina de Médicis, esposa do rei da França Henrique II, que era perseguidora dos huguenotes e chegou a fazer furos nas paredes do palácio para ouvir o que as pessoas das quais suspeitava estavam dizendo.
Custar os olhos da cara
Dizem que a expressão surgiu em referência ao espanhol Diego de Almagro, que viveu entre os anos 1479 e 1538. Ele foi um dos conquistadores da América e teria perdido os olhos quando tentava invadir uma fortaleza inca.
Ele próprio teria dito que defender os interesses da coroa espanhola teria custado seus olhos da cara, ao falar sobre o assunto ao imperador Carlos I, da Espanha.
Salvo pelo gongo