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Literatura de cordel

Por Me. Fernando Marinho

Dia 19 de novembro, comemora-se o Dia do Cordelista. Homenagem a quem dá brilho às histórias brasileiras, colhidas e criadas em todo o país, mas especialmente na região Nordeste. O outro nome do cordel é tradição. Mas tradição repleta também de expressões muito autênticas, de ironia, de poesia elaborada, por mais simples que pareça. A data vem do nascimento do poeta paraibano Leandro Gomes de Barros, em 1865.

O cordel tornou-se uma referência de literatura característica do Nordeste brasileiro, fortalecendo ainda hoje a identidade regional.

Cordel datado de 1637 na Holanda.

literatura de cordel veio junto com os portugueses, adentrando o Brasil pelo Nordeste e propagando essa cultura pela região nordestina do país, que, posteriormente, tornou-se referência em cordel.

Por abordar histórias e situações características da região, o cordel fortaleceu o folclore e o imaginário regional. Sua impressão em grande quantidade e rapidez fez com que se popularizasse, principalmente, porque sintetizava de maneira simples histórias. Hoje, a literatura de cordel é reconhecida como patrimônio cultural imaterial, existindo até uma Academia Brasileira de Literatura de Cordel.

Origem

De origem portuguesa, a literatura de cordel começou com o Trovadorismo medieval, por volta do século XII. Os trovadores cantavam e espalhavam histórias para a população que, na época, era em grande parte analfabeta, mas acabava tendo acesso às histórias por meio dessas canções.

Já na Renascença houve muitos avanços tecnológicos, como a prensa mecânica, que deu início à imprensa. A invenção dessa tecnologia permitiu a impressão de grande quantidade de palavras no papel e com maior rapidez. Com essa agilidade na produção, a distribuição da palavra, que até então era apenas cantada, passou a ganhar a casualidade das ruas.

Assim começou a cultura do cordel, que era apresentado nas ruas pendurado em cordas – ou cordéis, como é chamado em Portugal –, popularizando histórias regionais. Quando os portugueses chegaram ao Nordeste brasileiro, trouxeram consigo esse costume que aqui fica conhecido como a literatura de cordel, famoso principalmente em Pernambuco.

No Brasil, o cordel popularizou-se por volta do século XVIII, quando também ficou conhecida como poesia popular, já que aqui a técnica advinda de Portugal ganhou novas temáticas regionais, divulgando histórias de uma maneira simples, possibilitando que a população compreendesse com facilidade.

A propagação do cordel ocorreu por meio dos repentistas (ou violeiros), que, similarmente aos trovadores medievais, cantavam histórias musicadas e rimadas nas ruas das cidades, popularizando os poemas que depois vieram a ser os cordéis.

Principais poetas de bancada (autores de cordéis)

  • Leandro Gomes de Barros

O mal e o sofrimento, por Leandro gomes de Barros |

O primeiro brasileiro a escrever cordéis. Acabou fazendo parte do imaginário popular do Nordeste brasileiro, por exemplo, quando Ariano Suassuna, grande dramaturgo nordestino, fez referência a Leandro em sua peça ‘Auto da compadecida’ com o cordel ‘O testamento do cachorro’ e ‘O cavalo que defecava dinheiro’. Leandro produziu mais de 240 obras campeãs de vendas.

  • João Martins de Athayde

Cordelistas brasileiros - Conhecendo o CORDEL - Laifi

João ficou popular por utilizar em seus cordéis imagens de artistas de Hollywood. Fazendo parte da primeira geração de autores de cordéis, João foi um dos primeiros poetas a ter sua própria editora especializada em cordéis. Após a morte de Leandro Gomes de Barros, João comprou os direitos de publicar vários de seus cordéis, sendo apenas de recente data a descoberta da verdadeira autoria de Leandro.

Principais características

  • As xilogravuras que ilustram as páginas dos poemas acabam por ser uma grande característica dos cordéis. A técnica é bastante usada por partir do mesmo princípio de impressão das palavras: uma base que é esculpida como um carimbo e prensada em uma superfície, deixando o negativo impresso.

  • Possui musicalidade por ter métrica e rimasem seus versos.

  • Os cordéis tratam dos costumes locais, fortalecendo as identidades regionais e o folclore.

Exemplo de cordel

Ai! Se sêsse!…

Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dois se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
e tu cum insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
e o buxo do céu furasse?…
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!!
(Zé da Luz)
Nesse exemplo de cordel, pode-se observar algumas das características desse gênero, já mencionadas, como a rima e a métrica dos versos.

LA CASA DE PAPEL – CORDEL

Bráulio Bessa

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