Sergio Garloppa – Produtor Artístico Cultural – Carioca, torcedor do Bangu, atualmente Morador de Volta Redonda -RJ. Trabalhou e produziu show de diversos artistas da MPB entre eles Baby do Brasil, Novos Baianos, Moraes Moreira, Elimar Santos, Paulinho Moska, Ivan Lins, Maria Gadu, Zeca Baleiro, Gonzaguinha, Vando, Charlie Brow Junior, Cazuza, e Luiz Melodia. Participou como produtor em 03 Rock in Rio e diversos shows internacionais.


15

PAPO DE SOM

 

Os anos 80 foram fundamentais para o rock brasileiro se consolidar. E, além das grandes bandas do período – RPM, Legião Urbana, Titãs – surgiram bandas menos famosas, mas extremamente criativas. Uma delas foi o grupo carioca Picassos Falsos, que foi um dos pioneiros ao tentar adaptar o samba, ou soul e o funk ao rock. A principal figura da banda era o vocalista Humberto Effe, que deixou sua marca nos dois discos lançados no final da década de 80. Uma carreira curta, porém, marcante.

Os Picassos Falsos começaram em 1985, no bairro da Tijuca, mas com outro nome: O Verso.

O grupo era formado por Humberto Effe (voz e violão), Gustavo Corsi (guitarra, violão e cavaquinho), Caíca (baixo) e Abílio Rodrigues (bateria). Caíca ficou até 1987, quando entrou Zé Henrique Romanholli.

Nesse período O Verso deixou de existir, sendo rebatizado pelo vocalista Alvin L. como Picassos Falsos.

E foi com essa formação que o grupo gravou a primeira demo, contendo “Carne e osso”, “Quadrinhos” e “Idade Média”. A fitinha teve maciço apoio da rádio Fluminense FM, e acabou chamando a atenção do jornalista e produtor José Emílio Rondeau, o mesmo do primeiro LP da Legião Urbana.

O grupo acabou assinando com a RCA, que havia montado um selo chamado Plug, para promover novas bandas. Uma delas foi o Violeta de Outono. Lançado em 1987, Picassos Falsos foi uma estréia inovadora e recebeu elogios por parte da crítica.

Os maiores sucessos foram “Quadrinhos” e “Carne e osso”, sendo que a primeira fez parte do programa Armação Ilimitada, da Rede Globo. Os Picassos inovavam ao usar músicas incidentais; “Carne e osso”, por exemplo, trazia trechos de “Se você Jurar”, de Ismael Silva, além de “Cristina (Carlos Imperial-Tim Maia)”, sucesso na voz de Tim.

 

O LP trazia as seguintes faixas:
Lado A
  1. Carne e osso (Abílio – Caíca – Luiz Gustavo – Humberto Effe)
* Mus. Inc. “Se você jurar” (Ismael Silva-Francisco Alves)
* Cristina (Carlos Imperial-Tim Maia)
  1. Quadrinhos (Pequinho – Humberto Effe)
  2. Que horas são? (Humberto Effe)
  3. Bater à porta (Humberto Effe)
  4. Últimos carnavais (Zé Henrique – Abílio – Luiz Gustavo – Humberto Effe)
Lado B
  1. Constrastes (Luiz Gustavo – Humberto Effe)
  2. Bonnie e Clyde (Zé Henrique – Abílio – Luiz Gustavo – Humberto Effe)
  3. Um bêbado (Zé Henrique – Abílio – Luiz Gustavo – Humberto Effe)
  4. Idade média (Abílio – Caíca – Luiz Gustavo – Humberto Effe)
  5. Olhos mudos (Humberto Effe)

Com o lançamento, a banda teve uma lotada agendada de shows, onde se destacavam pelo ótimo nível dos músicos e a presença carismática de Humberto Effe, um dos letristas mais subestimados dos anos 80, além de ser um excelente performer.

O grupo abusava de suas influências no palco, abusando dos ritmos regionais como ritmos nordestinos, samba, soul e funk.

Se Picassos Falsos foi uma ótima estréia, o próximo LP seria a grande obra da banda.

Supercarioca é um disco ainda mais ousado e visionário, mesclando todos os ritmos regionais com Jimi Hendrix.

O LP radicaliza os conceitos iniciais da banda, mas teve vendas inferiores ao disco de estréia.

Se as vendas foram mais modestas, o grupo tinha atingido o seu ápice artístico e o shows eram cada vez mais interessantes e cheios de referências.

Na faixa “Bolero”, a banda citava “Third Stone from the sun”, do primeiro LP do The Jimi Hendrix Experience, Are You Experienced.

O LP trazia as seguintes faixas:
Lado A
  1. Retinas (Abílio – Luiz Gustavo – Humberto Effe)

  1. Bolero (Humberto Effe)
Mus. Inc. “Third Stone from the sun” (Jimi Hendrix)

  1. Marlene (Luiz Henrique – Abílio – Luiz Gustavo – Humberto Effe)

Mus. Inc. “Último desejo” (Noel Rosa)
  1. Verões (Humberto Effe)
  2. Wolverine (Luiz Henrique – Abílio – Luiz Gustavo – Humberto Effe)
  3. Sangue (Luiz Henrique – Luiz Gustavo – José Henrique – Humberto Effe)
Lado B
  1. O homem que não vendeu sua alma (Luiz Henrique – Abílio – Luiz Gustavo – Humberto Effe)

  1. Fevereiro (Luiz Gustavo – Humberto Effe)

  1. Fevereiro 2 (Luiz Henrique – Abílio – Luiz Gustavo – Humberto Effe)
  2. Rio de Janeiro (Luiz Gustavo – Humberto Effe)

  1. Supercarioca (Humberto Effe)

A banda continuou na estrada, até o adeus, em 1990. Humberto tentou uma carreira solo, lançando um disco em 1990.

Gustavo Corsi tocou com Ivo Meireles, Gabriel o Pensador, Marina Lima e Cláudio Zoli, e também com o Rio Sound Machine.

Romanholi tentou a vida no Cruela Cruel (que contava com o guitarrista Feranando Magalhães, do Barão Vermelho), até abandonar a música e tentar a vida no jornalismo.

Abílio trabalhou com Belchior e Ivo Meireles, abriu um estúdio e uma loja de instrumentos e formou-se em filosofia.

Segundo Gustavo Corsi, a banda se separou porque a gravadora exigia um novo LP e como eles atravessavam uma fase de pouca criativa, aliada com a pressão, resolveram terminar. Após ficar toda a década de 90 sumidos, eis que a banda volta no primeiro ano do Século XXI.

O grupo tinha duas idéias: gravar um novo trabalho, Novo mundo, que foi editado apenas em 2005, pelo selo Psicotronica e o show Hipercariocas, onde tocavam músicas de Paulo da Portela, João Donato, Chico Buarque e João Nogueira.

Nessas apresentações contavam com a presença do percussionista francês David Villefort.

Segundo Effe, em entrevista ao jornal O Globo, em 2001, “sempre usamos percussão nos disco, mas no palco éramos um quarteto. Não tínhamos esta preocupação.”

Novo Mundo trazia as seguintes composições:
  1. Você não consegue entender (Dé Palmeira – Humberto Effe)
02 Porta-bandeira (Dé Palmeira – Humberto Effe)
  1. Presidente Vargas (Humberto Effe)
  2. Rua do desequilíbrio (Humberto Effe)
  3. Zig zag 2 (Humberto Effe – Dé Palmeira)
  4. O filme (Humberto Effe)
  5. Novo mundo (Humberto Effe)
  6. Até onde for seguir (Humberto Effe – Dé Palmeira)
  7. Pra deixar de ficar só (Humberto Effe)
  8. Me diga seu nome (Ismael Silva – Noel Rosa)
  9. Eletricidade (Humberto Effe)

O grupo acabou chamando novamente a atenção e foram um dos destaques do TIM Festival, em novembro de 2004, o mais importante evento de música do país, na noite do dia 6.

Eles abriram para a cantora PJ Harvey e o Primal Scream. Dividir o palco, no entanto, não animou muito os músicos.

Ou como disse Romanholi, em uma entrevista ao Globo, em 2001: “O público ainda é ligado no que é produzido lá fora. Eu que já fui roqueiro radical, hoje não troco dez Strokes por um Mestre Ambrósio.”

Desde então, a banda reuniu-se ocasionalmente, com planos de lançar um quarto disco jamais concretizado. Os dois discos se encontram fora de catálogo, mas eles foram reunidos na coletânea Picassos Falsos Hot 20, ainda que com as faixas fora de ordem.

Deixo vocês com a discografia da banda. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia
Picassos Falsos (1987)
Supercarioca (1988)
Picassos + Hojerizah (1994)
Picassos Falsos Hot 20 (1999)
Novo Mundo (2004)

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário
Por favor digite seu nome