Cartola

Por Dilva Frazão

Biografia de Cartola

Cartola (1908-1980) foi cantor e compositor brasileiro. “As Rosas Não Falam”, música e letra de sua autoria, um clássico do samba, foi escrita quando cartola tinha 67 anos.

Angenor de Oliveira, conhecido como Cartola, nasceu no Catete, no Rio de Janeiro, no dia 11 de outubro de 1908. Filho de Sebastião Joaquim de Oliveira e de Ada Gomes.

Infância e juventude

Todos os anos, os familiares de Cartola desfilavam nos festejos do Dia dos Reis, fantasiados e munidos de cavaquinho e violão..

Cartola estudou em vários grupos escolares, entre eles o Rodrigues Alves, pois acabava sempre expulso por mau comportamento,  só concluindo o curso primário.

Quando tinha onze anos, seus pais se mudam para o Morro da Mangueira, onde Cartola começou a frequentar a vida boêmia e as rodas de samba. nessa época, tocava violão e cavaquinho.

Com quinze anos, quando ficou órfão de mãe, seu Sebastião mandou Cartola tratar da vida. Sem ter onde dormir ficava pelas madrugadas na boêmia e malandragem.

Para se sustentar, Cartola empregou-se em uma tipografia, mas não ficou muito tempo, pois não se adaptou ao serviço onde não podia assobiar nem cantar.

Começou o trabalho na construção civil e acabou aprendendo a profissão de pedreiro. Nessa época, usava um chapéu-coco, e assim nasceu o apelido de “Cartola”.

Sua vizinha de barraco, Deolinda da Conceição, casada, com uma filha e sete anos mais velha, cuidava de Cartola, então com 18 anos. Os dois decidiram morar juntos e Deolinda deixou sua casa  e levou sua filha, que Cartola criou como se fosse sua filha.

Estação Primeira da Mangueira

Do encontro com Carlos Cachaça, que se tornaria seu principal parceiro de composições e boêmia, nasceu o bloco carnavalesco “Bloco dos Arengueiros”.

Aos poucos, os criadores resolveram ampliar o bloco e em 1928 surgiu a “Estação Primeira”, nome que fazia referência à primeira parada dos trens de subúrbio que partiam da cidade.

Além de ter escolhido o nome, foi Cartola que deu a ideia do verde e rosa para as cores da agremiação. Só depois passou a ser a escola de samba “Estação Primeira da Mangueira”.

Entre muitos outros integrantes da escola destacavam-se Saturnino Gonçalves, Marcelino José Cláudio, Francisco Ribeiro e Pedro Caymmi. “Chega de Demanda” foi o samba de abertura da Estação Primeira.

No início da escola, os instrumentos eram apenas tamborim, pandeiro, violão, cavaquinho. Surdo, reco-reco e cuíca vieram depois.

Carreira musical

Em 1929, Cartola foi apresentado ao cantor Mário Reis, que estava interessado em ouvir e comprar alguns sambas do compositor. Mesmo desconfiado, Cartola vendeu “Que Infeliz Sorte”, que em 1930, foi gravado pela dupla “Mário Reis e Francisco Alves”.

Em 1933, Cartola formou um conjunto vocal e instrumental com os compositores Wilson Batista e Oliveira da Cuíca, porém o trio durou pouco e Cartola continuou compondo e praticando sua tarefa predileta: a boemia.

Em 1934, Francisco Alves o procurou  querendo fazer negócio. Cartola cedeu-lhe “Divina Dama”, que o sambista considerava sua melhor composição.

Divina Dama

Tudo acabado
E o baile encerrado
Atordoado fiquei.
Eu dancei com você
Divina dama
Com o coração queimado em chama…

Cartola e Noel Rosa

Em 1935, em um botequim de bilhar, nas proximidades do atual Estádio do Maracanã, Cartola conheceu Noel Rosa. Ficaram tomando cerveja e batendo papo.

Com a chegada de Francisco Alves os dois resolveram pedir dinheiro ao cantor, que explodiu com os pedidos. Cartola e Noel resolveram ir embora e ameaçaram não fazer mais negócios com o cantor.

Chico resolveu ceder e impôs que eles fizessem um samba na hora. Inspirados na situação, Cartola compõe “Qual Foi o Mal Que Eu Te Fiz?”, e Noel compôs “Estamos Esperando”.

Qual Foi o Mal Que Eu Te Fiz?

Diz
qual foi o mal que eu te fiz?
Eu não
te farei essa ingratidão
Foi um palco contra nossa amizade
não creias, não pode ser verdade.
Não creias nestas mentiras
que roubam nossa alegria
os invejosos se vingam
armados de hipocrisia…

Década de 40 e 50

Em 1940, o maestro Leopold Stokowski veio ao Brasil com a Orquestra Sinfônica da Juventude Americana, e resolveu fazer algumas gravações de música popular brasileira.

Villa Lobos foi buscar Cartola no morro para a gravação que seria feita a bordo do Uruguai ancorado no cais da Praça Mauá. Participaram também: Donga, Pixinguinha e outros.

Nessa época, Cartola começou a cantar suas composições e se apresentar em várias estações de rádio. Junto com Paulo Portela fez o programa “A Voz do Morro”, onde apresentava mensalmente um samba de sua autoria para os ouvintes darem nome.

Em 1944, além de Diretor de Harmonia da Mangueira, cartola tornou-se Presidente de Honra da Ala dos Compositores.

Dois anos depois, Cartola adoeceu, teve uma meningite que o afastou da escola; Pouco depois de se recuperar, Deolinda, que cuidou dele, faleceu.

Algum tempo depois, Cartola foi viver com Donária e deixou o morro indo morar em Nilópolis e depois no Caju Passou muito tempo afastado do samba e falava-se que ele tinha morrido.

No fim da década de 50, levado por Dona Zica, irmã da esposa de Carlos Cachaça, Cartola voltou à sua velha Mangueira, onde era amado e respeitado por todos.

Década de 60 e 70

Em 1961, todas as sextas-feiras tornara-se programa obrigatório para os sambistas um encontro na casa de Cartola. Lá apareciam Zé Kéti, Nelson, Cavaquinho, Paulinho da Viola e muitos outros.

Com muita cerveja e acompanhado dos quitutes de Zica, o samba ia até altas horas. A casa ficou famosa e pouco depois surgiu a ideia do restaurante “Zicartola”, que funcionou na Rua da Carioca, no centro da cidade.

O jornalista Sérgio Porto procurou realizar o retorno de Cartola ao meio artístico. Conseguiu para ele um emprego no rádio e fez com que retomasse os velhos contatos.

Em outubro de 64, Cartola e Zica finalmente oficializaram a união. Cartola descobriu que se chamava Angenor e não Argenor, como pensava, quando precisou da certidão de casamento.

As composições de Cartola voltam a ser gravadas: Nara Leão gravou “O Sol Nascerá” (1964) e Elizeth Cardoso gravou “Sim” (1965).

O tempo foi passando, e o Zicartola não tinha a mesma frequência e fechou as portas. Juntos, Cartola e Zica retomaram sua vida comum.

Em 1970 Cartola foi convidado como anfitrião de um show semanal no prédio da extinta União Nacional dos Estudantes, no Flamengo. O nome do espetáculo, “Cartola Convida” mostrava a importância do sambista.

Finalmente, em 1974, Cartola gravou o seu primeiro disco, com muitas das canções gravadas por outros cantores, entre elas, “O Sol Nascerá”, a mais destaca composição de Cartola:

O Sol Nascerá

A sorrir
Eu pretendo levar a vida
Pois chorando
Eu vi a mocidade perdida…

Em 1976, um novo LP foi lançado e um novo sucesso. A composição “As Rosas Não Falam”, escrita no auge dos seus 67 anos, se tornou uma das mais conhecidas do compositor:

As Rosas Não Falam

Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
pois já vai terminando o verão
Enfim
Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Pra mim…

No final da década de 70, depois de se submete a uma cirurgia para tirar um câncer na tiroide, a saúde de Cartola foi aos poucos se fragilizando.

Cartola faleceu no Rio de Janeiro, no dia 30 de novembro de 1980.

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Filme: “Cartola – Música para os Olhos”

Esta é a história de Angenor de Oliveira, mais conhecido como Cartola. Um dos mais importantes compositores da música brasileira de todos os tempos. Os diretores Lírio Ferreira e Hilton Lacerda mostram a importância de Cartola para a música brasileira, traçando um emocionante painel do autêntico samba de origem e seus principais expoentes.

 

Cartola – Depoimento por ele mesmo

Cartola e seu Pai – O Mundo é um Moinho

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