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Cannabis x Vinho

Bebidas alcoólicas e drogas geralmente se harmonizam, assim como “Fred & Ginger”, famosa dupla de dançarinos (Fred Astaire e Ginger Rogers). Porém, essa premissa pode não ser verdadeira.

Especialmente em uma das mais importantes regiões vinícolas  dos Estados Unidos, os produtores de vinhos californianos estão levantando a hipótese de que o uso da maconha recreativa, que se tornou legal lá desde Janeiro de 2018, pode roubar uma fatia do orçamento de seus vinhos.

A Califórnia se tornou o maior estado americano a legalizar o uso da maconha recreativa, o que significa que adultos maiores de 21 anos podem possuir 28 gramas da droga e podem cultivar seis plantas de maconha em casa. Oponentes da lei afirmam que a lei afetará também a direção de automóveis com potencial de acidentes e incentivará o consumo da droga entre os jovens.

O uso da maconha para tratamentos já foi legalizado lá em 1996. Estima-se que o mercado consumidor seja de US$ 5,1 bilhões anuais e, uma vez legalizado totalmente, chegue a US$ 5,8 bilhões anuais. Outros oito estados americanos também legalizaram seu uso medicinal e recreativo, mas o governo federal ainda classifica a maconha como ilegal.

No mundo do vinho californiano, os produtores também reclamam que não podem mais pagar os funcionários temporários para a colheita da uva (em geral de setembro e outubro de cada ano), porque os mesmos recebem remunerações melhores durante o ano todo pelas fazendas produtoras de cannabis.

Economia

Em recente artigo na revista The Economist, os dados demonstrados pelo Rabobank, empresa holandesa especializada em financiamentos para o setor agrícola, maconha e álcool são até certo nível substitutos.

A legalização da maconha incentiva mulheres, baby boomers e consumidores de alto nível econômico a fumarem, ao invés de ingerirem bebidas alcoólicas, incluindo nisso, obviamente, o vinho. A cannabis está deslanchando, porque chama a atenção também do consumidor saudável, uma vez que 72% dos usuários pensam que a maconha seja mais segura do que o consumo de bebidas alcoólicas.

Vendedores de maconha, talvez inspirados no mercado do vinho (especialmente na Califórnia), já criaram um sistema de pontuação da maconha (com total de 100 pontos) conhecida no mundo do vinho, para não dizer a publicação Weed Spectator plágio total de revista Wine Spectator.

Alguns sommeliers, aproveitando a onda, estão ensinando a harmonizar o vinho com a maconha. Em outro centro de produção de vinhos no Vale Napa, produtores de vinho criaram a Napa Valley Cannabis Association, com a ideia de cultivar a planta em 2019.

Outro produtor de vinhos na costa de Los Angeles produziu um vinho à base de Sauvignon Blanc com infusão de cannabis. Me pergunto como será o gosto deste vinho.

A ideia chegou ao ponto em que um escritor inglês de vinhos sugere que o futuro seja não fumar a cannabis, mas, sim, bebê-la. Então, seguindo esta teoria, bebidas alcoólicas e cannabis poderiam harmonizar e conviver bem juntas.

Turismo

Como faz parte da cultura americana, muitos empreendedores miram as oportunidades criadas pelas leis e, neste caso, uma grande tendência é achar que a liberação do uso recreativo da cannabis seja ótima janela para negócios novos.

No Colorado, a empresa Colorado Cannabis Tours responde a várias perguntas sobre o tema bebidas e cannabis e oferece tours e serviços para os adeptos e interessados no tema, um nicho de mercado muito específico e especial para os que apreciam beber e fumar.

Na seção em que o site explica sobre as bebidas produzidas a partir da combinação da cannabis com vários tipos de bebidas, ela entra nos detalhes das seguintes opções:

  • Vinho e cannabis (consumidos separadamente, sempre dentro da lei aprovada de 28 gramas por adulto)

  • Vinho feito com cannabis no momento da vinificação (vinícola Cannavines, https://cannavines.com)

Hemp wine (especificado como uma planta “prima” da maconha)

  • CBD Wine (especificado com menor índice de THC, ou seja, tetra-hidrocanabinol, ou dronabinol, é a principal substância psicoativa encontrada nas plantas do género Cannabis. Pode ser obtida por extração a partir dessa planta ou por síntese em laboratório)

  • THC Wine, associada ao que classificam como “cannabis garapa”

  • Marijuana Wine sem álcool

  • Espumante Cannabis wine

  • Chá de maconha

  • Cannabis soda, como a Coca-Cola

  • Cannabis café

Um pacote de três dias “Cannabis” com esta agência de turismo tem o preço inicial de US$ 170, incluindo tour e aulas de concentrados do extrato (o que vem a ser isso, só experimentando), além de aula de culinária com cannabis. Outras opções oferecem até esqui unido à experiência de aula de culinária cannabis, e assim por diante.

Fiquei me perguntando se a cannabis seria um teaser para um tour enogastronômicomais normal, ou se acabaria tornando-se o foco principal da viagem. Para responder essa pergunta, acredito que em minha próxima viagem à Califórnia eu devo experimentar para comprovar.

Cheers, a presto!

Autor: Patrícia Kozmann, brasileira radicada em Verona, é travel expert em itinerários enogastronômicos na Itália e colaboradora direta da Vinitaly, a maior feira de vinhos do mundo.

 

 

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