Com a derrubada do governo de João Goulart, em 1964, instaurou-se a Ditadura Militar no Brasil. Sob o pretexto de redemocratizar o país, limpando-o da escória, como comunistas e outros seres pensantes (possíveis ameaças à ditadura), foi inaugurado um período sombrio em nossa história. O caos teve seu grande início.

Não demorou muito para que os militares entrassem com o Ato Institucional Nº 5, que suspendia direitos fundamentais do cidadão – entre eles a manifestação de cunho político. Logo, a MPB ( que presenciara na década de 50, o grande início do movimento Bossa Nova e outros) gritou em ato de repúdio e foi para a luta.

Assim, músicos, compositores e pensadores da época reuniram, questionando os fatos e informando a população, apesar de censurados pelos órgãos opressores. Em ato político, descreveram, em suas músicas, os horrores da falta de liberdade de expressão. Descrições que perpetuam até os dias atuais, trazendo à tona toda a covardia aplicada contra nosso povo, e que não nos deixam esquecer todas as atrocidades cometidas contra nosso país.

Adeus, batucada | musicaemprosa

Para censurar a produção cultural foi criada a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), onde qualquer tipo de produção voltada à área cultural deveria ser previamente aprovada antes de ser distribuída ao público. No entanto, a censura não obedecia critério algum. Sendo assim, cometia falcatruas: censurava por questões políticas ou pela “proteção da moral familiar brasileira”.

Muitos nomes foram exilados, presos e torturados, como por exemplo, Gerado Vandré, que compôs “Pra não dizer que não falei das flores”, um hino contra a ditadura. Nessa canção, Geraldo enfatizava as injustiças (pelos campos há fome em grandes plantações), destacava a presença do exército nas ruas (Há soldados armados, amados ou não) e convocava as pessoas para se unirem na luta contra a ditadura (Vem, vamos embora que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer).

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Chico Buarque e Gilberto Gil compuseram uma música que reflete bem a situação da época. “Cálice” (interpretada por Buarque e Milton Nascimento) traz referências a uma passagem bíblica (Pai, afasta de mim esse cálice de vinho tinto de sangue), mas é, na realidade, uma metáfora com o verbo “calar” (cale-se!). Foi a forma que os músicos acharam de dizer ao mundo que a liberdade de expressão estava caçada no Brasil. Completamente genial, a música traz em si a essência da militância brasileira da época (mesmo calada a boca, resta o peito. Silêncio na cidade não se escuta).

Chico Buarque e Gilberto Gil – Cálice (audio censurado) Phono 73

Outra música que machucou o militarismo foi “Viola Enluarada” (1967), de Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, que é uma verdadeira alusão a luta dos artistas da época: “A mão que toca um violão / se for preciso faz a guerra.”

TRIBUNA DA INTERNET | A mão que toca um violão, se for preciso faz a guerra…

Houve outra guinada, desta vez mais profunda, conhecida como “Movimento Tropicália”. Também em 1967 e 1968, um conjunto de artistas resolveu romper com o que ainda havia de tradicional na arte brasileira, sob o amparo da vanguarda da cultura pop. Na música, seu grande manifesto foi o disco “Tropicalia ou Panis et Circencis”, reunião de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes, Nara Leão, Tom Zé e Gal Costa. O clamor era por mais liberdade, em um tempo em que essa era uma palavra proibida.

50 anos do disco Tropicália ou Panis Et Circencis — Rádio Senado

Em 1970, Buarque compôs “Apesar de você”, que, em sua ideia subentendida retrata a esperança dos militantes em torno da Ditadura (apesar de você, amanhã há de ser outro dia.). Já em 1976, Belchior compôs “Como nossos pais” (ressaltando bons trechos: “o sinal está fechado para nós, que somos jovens.” – “Minha dor é perceber que apesar de tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais.”).

Em busca da memória, da verdade e da justiça – Revista Desvio

– Várias outras músicas também confrontaram o regime militar: “Cartomante” de Ivan Lins e Victor Martins, ” Nordeste independente” de Bráulio Tavares e Ivanildo Vila Nova, “Canção da Despedida” de Geraldo Azevedo, “O Bêbado e a Equilibrista” de João Bosco e Aldir Blanc.

RedeGN - Caiu a tarde sobre um viaduto. Desencarna hoje a poesia de Aldir Blanc

Milhares de pessoas foram agredidas, torturadas e assassinadas. Outras milhares desapareceram durante o período turbulento. Por fim, as músicas daquela época guardam até hoje, o gosto amargo da lembrança que dói no coração do povo brasileiro. A MPB marcou e continua marcando as eras do nosso país com um olhar único e especial que somente ela sabe ter.

Da MPB às artes plásticas: a irreverência dos artistas na ditadura

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