No dia 12 de setembro de 1936, um sábado, a imprensa escrita carioca noticiava que a população sintonizasse 980 kilociclos para ouvir, pela primeira vez, a Sociedade Rádio Nacional. Dotada de um potente transmissor, foi criada pelo grupo do jornal A Noite, do qual faziam parte as revistas Noite Ilustrada, Vamos Ler e Carioca. Às 21h, um gongo soou três vezes e a voz marcante do radialista Celso Guimarães anunciou: “Alô, alô, Brasil! Está no ar a Rádio Nacional do Rio de Janeiro”. Depois, ouviu-se a melodia Luar do Sertão e uma bênção realizada pelo cardeal da cidade.
Apesar de ter entrado no ar em 1936, como patrimônio do jornal A Noite, do Rio de Janeiro, a Rádio Nacional alcançaria a audiência e a popularidade que a consagrou apenas a partir de 1940.
Foi nesse ano que, por conta de dívidas com o governo federal, o grupo detentor da emissora teria seu patrimônio incorporado aos bens da União.
Também não seria sem intenções que, em 1940, a importante Rádio Nacional, um instrumento de propaganda e de afirmação para o regime, tenha sido estatizada, transformando-se na rádio oficial do governo brasileiro.
A incorporação da emissora ao patrimônio da União em 8 de março de 1940 – durante o governo de Getúlio Vargas – deu condições que a levaram a ser o grande fenômeno de expressão da cultura popular brasileira e uma das cinco maiores rádios do mundo à época.
O primeiro time da Rádio Nacional era composto por nomes como o maestro Radamés Gnatalli, o professor de ginástica Osvaldo Diniz Magalhães, a locutora Ismênia dos Santos, as cantoras de samba Marília Batista e Aracy de Almeida, o compositor Lamartine Babo, e intérpretes de canções brasileiras como Orlando Silva e Nuno Roland, entre outros. Passaram por lá ainda outros músico como Caubi Peixoto, Herivelto Martins, Carlos Galhardo, Francisco Alves, Sílvio Caldas, Emilinha Borba, Dalva de Oliveira e Marlene.
A emissora também seria o berço de grandes nomes da dramaturgia brasileira, como Paulo Gracindo, Henriquieta Brieba, Virginia Lane, Rodolfo Maia, Mario Lago, Isis de Oliveira e Janete Clair. A Nacional deu início às transmissões de rádio teatro três meses após a inauguração.
Com seis estúdios e uma agenda de programação ao vivo, em 1942 o famoso auditório com 496 lugares da emissora foi inaugurado no 21º andar do Edifício A Noite. Era ali que programas, apresentadores, cantores e artistas podiam sentir a vibração do público que lotava o lugar.
Em entrevista recente à emissora, o compositor João Roberto Kelly, autor de inúmeras marchinhas carnavalescas, contou que “o auditório da Nacional era o verdadeiro termômetro das marchinhas. Se o público aprovasse a música lá, com certeza ela ganharia as ruas”.
Em 1942, com a inauguração da transmissora de ondas curtas, a Nacional se tornou uma das cinco mais potentes emissoras do mundo, com antenas dirigidas para todo o país e também para Estados Unidos, Ásia e Europa.
Em 1947, a emissora era sintonizada por um milhão de pessoas.
Os programas de auditório dominaram as décadas de 1940 e 1950, a chamada Era de Ouro do Rádio, período em que a Rádio Nacional foi líder absoluta de audiência
Em 1941, foi lançada a primeira história-seriada do rádio brasileiro chamada “Em busca da felicidade”, de autoria do cubano Leandro Blanco. No elenco estavam nomes como Zezé Fonseca, Iara Sales, Rodolfo Maier, Isis de Oliveira, Floriano Faissal, Saint Clair Lopes e Brandão Filho.
Disputada pelos patrocinadores, a Rádio Nacional pôde colocar no ar programas inovadores, que logo cairiam no gosto popular, como as radionovelas. “Em Busca da Felicidade” foi a primeira de uma série.
Reportagem da TV Sesc/Senac, sobre como eram gravadas as radionovelas da Nacional. Entrevista com Gerdal dos Santos que mostra o estúdio de radioteatro e como era feita a sonoplastia. Participação também de Daisy Lúcidi, entre outros.
Trecho da novela “O direito de nascer”, apresentada na Rádio Nacional nos anos 1950.
No mesmo ano, em 28 de agosto, surge o Repórter Esso. Com o slogan “O primeiro a dar as últimas”, o programa inicialmente não tinha um apresentador exclusivo. Mais tarde, em 1944, Heron Domingues se tornou sua voz oficial. Havia tanta credibilidade do público que considerava que a informações só eram de fato legitimadas quando iam ao ar no Repórter Esso.
A Rádio Nacional também faria história com os programas de auditório. Um dos mais importantes para a música popular brasileira foi o de César de Alencar, que ia ao ar nas tardes de sábado.
Programa Cesar Alencar
Foi contratado pela Rádio Nacional, que era a emissora mais ouvida do Brasil. Seu sucesso foi crescendo sempre. criou o programa: ” César de Alencar”, onde se apresentavam os principais artistas do Brasil. Entre as inovações que trouxe, César fazia entrevistas ao vivo pelo telefone, recurso que é usado até os dias de hoje.
Abertura do programa Cesar Alencar
Programa Cesar Alencar