Brega é um gênero musical brasileiro. Sua definição como estética musical tem sido um tanto difícil, pois não há um só ritmo musical propriamente “brega”. É muito usado para designar a música romântica popular de “baixa qualidade”, com exageros dramáticos ou ingenuidade. Wikipédia
Ser brega já não é mais tão brega assim. Atualmente com uma certa aura Cult, o romantismo exagerado de Ronnie Von, Wando e Odair José, antes rebaixado ao astral inferior da música, deixou de ser cafona aos ouvidos de jovens descolados e moderninhos que curtem o jeito brega de ser em discos de vinil – comprados em sebo, claro –, e nas festas mais hispters da cidade. Finalmente é possível falar de amor sem ser vaiado e cantar repetidas vezes “eeeu te amo, eeeu te amo”, refrão da canção “Meu sangue ferve por você”, de Sidney Magal.
Depois de penar no umbral, parece que a “música de empregada” vem passando por um processo de legitimação, e ninguém mais a teme, ao contrário, alimenta-se dela. “A verdade é que todo mundo tem um lado brega. Se não aflorou ainda é só tomar três cervejas que aparece”, sugere Cristiano dos Passos, integrante da banda da Capital D’Brega’S Drama Band, grupo dedicado exclusivamente ao estilo que impera nas rádios AM. “Hoje cafona é estar dentro das tendências da moda. Cult é estar com o pé no passado”, complementa a reflexão Rhae, o proprietário do Barbarella, casa noturna da cena alternativa do Centro de Florianópolis.
É como se o pessoal de “bom gosto” resolvesse redescobrir o cancioneiro amoroso e escrachado. “A música brega fala muito de amor, desilusões, brigas. Todo mundo se identifica com esses temas, mesmo os mais refinados, elegantes e contidos”, diz a psicóloga Mônica Duarte, 39, que quando sobe ao palco com a banda D’Brega’S transforma-se em Susete Valdirene, uma manicure em ascensão. “Essas músicas mandam um recado direto, puro apelo emocional”, complementa. “Se te pegar com outro te mato” ou “cadê você que nunca mais apareceu?”, por exemplo, são mensagens diretas e certeiras ao amado e que imperam no refrão de canções melosas.
Brega é como um sopro gelado em um dia abafado
Jornalista descolado e DJ nas horas vagas, Marcelo Andreguetti, 24, é um hipster (vem da palavra “hip”, que pode ser traduzido como inovador), um tipo moderninho com toques vintage. Quando achou num sebo por R$ 1,50, não pode evitar e comprou um disco do Wando, o álbum clássico com a música “Ui Wando de Paixão”. “Ele é um ícone da cafonice, um exemplo de canastrão”, diz. “A gente se adequou a dizer que MPB antiga era brega”, avalia. Mas hoje essas canções têm ares diferentes. “E também é bom ouvir de vez quando canções que trazem referências de outros tempos”, diz Rhae, proprietário do Barbarella. Para ele, a música brega em meio à mesmice atual é como um sopro de vento gelado num dia abafado.
“O brega tem um pouco de auto ironia, que é muito presente na galera hipster e alternativa”, afirma Andreguetti, dono de uma coleção de 30 discos de vinil – com clássicos AM e a máxima Cult.
Eu não sou cachorro não!
No livro “Eu Não Sou Cachorro Não” (Editora Record), de 2002, o jornalista e historiador Paulo Cesar de Araújo tenta fazer justiça a esses ídolos populares mantidos no limbo. Essa fronteira entre boa música e a ruim começou a ser delimitada no final da década de 50, com o surgimento da bossa nova – uma proposta moderna da música brasileira que fez do estilo “dor-de-cotovelo” de mau gosto – e de uma cultura de jovens politizados.
Com a ditadura militar, a partir dos anos 1960, além de antiquada, a música de fossa levou o rótulo de alienada. Alguns artistas conseguiram saltar da vala comum e outros assumiram mesmo o rótulo e passaram a faturar com ele. Enquanto de um lado estavam Chico e Cateano, Tom Jobim e Gilberto Gil, do outro estavam Valdick Soriano, Lindomar Castilho, Agnaldo Timóteo e Benito de Paula, desprezados pela classe média e amados pelo povão – tanto que nos anos 70 o Brasil ficou em quinto lugar no mercado mundial de discos, segundo Cesar de Araújo.
“Viemos de uma cultura de repressão e agora é que temos uma reintegração do emocional e racional”, analisa a psicóloga Mônica Duarte, ou Suzete Valdirene quando no palco. Segundo ela, quem se nega a ser brega, se nega a sentir. E você, está esperando o quê para liberar suas emoções?
Cante bem alto:
Odair José, “Pare de tomar a pílula”, de 1973
Todo dia a gente ama mas você não quer deixar nascer
o fruto desse amor Pare de tomar a pílula (2X) porque ela não deixa nosso filho nascer Pare de tomar a pílula pois ela não deixa sua barriga crescer.
André Abujamra e banda Vexame cantam “Pense em Mim” – 1992