Tudo sobre o grafite no Brasil e no mundo 

Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

Considerado por alguns como vandalismo e por outros como dignos exemplares de arte urbana, o grafite (grafitismo) ocupa o espaço das ruas e atinge democraticamente todos os transeuntes causando admiração, repulsa ou indiferença.

Conheça um pouco mais sobre essa manifestação artística que cruza a nossa vida todos os dias.

Grafitismo: a arte do grafite

Chamamos de grafite inscrições ou desenhos rabiscados à mão sobre um muro, uma parede, um monumento, uma estátua ou sobre qualquer elemento que esteja na via pública. Em resumo, os grafiteiros pretendem intervir na cidade, aplicando a sua linguagem em espaços públicos. O objetivo é, principalmente, tecer uma crítica social.

Grafite vem da palavra italiana “graffito”, que significa literalmente “escrita feita com carvão”.

Grafite urbano: entenda a arte e a sua importância - ArtOut 🎨

O grafite é, por norma, muito perecível ao tempo e às circunstâncias uma vez que esse tipo de obra não possui proprietário nem vigia.

O trabalho que os grafiteiros produzem vive na dualidade entre a poluição visual e a obra artística. Norman Mailler, um consagrado escritor norte-americano, definiu o grafite como:

“uma rebelião tribal contra a opressora civilização industrial”

Grafite do artista brasileiro Toz na Zona Portuária do Rio.

Grafite vs Pichação

Há quem se pergunte se o grafite é arte ou se trata de mera pichação. Tendemos a acreditar que o ato de pichar está intimamente ligado ao vandalismo e à noção de destruição da via pública, enquanto que o grafite está relacionado à uma conotação mais positiva.

O grafitismo é considerado uma arte de rua elaborada a partir de uma técnica mais complexa. Ele é tido por muitos como um ramo das artes visuais.

Em geral, os grafiteiros – como costumam ser chamados – trabalham com latas de spray de tinta e, por vezes, stencil, sobretudo durante à madrugada, para não serem flagrados pela polícia.

Grafite x pichação: qual a diferença?

Uma grande diferença entre o grafite e a pichação se dá em termos de conteúdo: em geral o grafite está relacionado à uma imagem e a pichação se foca em uma escrita de um indivíduo ou de um grupo que assina muitas vezes um texto de caráter político. A pichação está frequentemente associada à poluição visual e à marginalidade.

Enquanto o grafite é boa parte das vezes feito com a autorização do proprietário do imóvel, a pichação se dá majoritariamente sem autorização.

Os tipos de grafite

O grafite costuma ser dividido em dois grupos:

  • spray art, promovida com o uso de spray, em geral de modo rápido, utilizando formas ou palavras simples e breves;

stencil art, feita a partir de um cartão com formas recortadas que são colocadas no local desejado e recebem o spray de tinta. A tinta passa pelos orifícios do desenho, que é retirado posteriormente

Grafite feito com stencil

O perigo de grafitar

Em muitos países grafitar locais públicos ou privados é considerado uma contravenção punida com multa ou até mesmo detenção.

Em Los Angeles, por exemplo, a arte de rua é fortemente combatida. A prefeitura inclusive lançou um aplicativo para que as pessoas pudessem denunciar casos e terem recompensas pelo gesto. Quem denuncia pode receber até dois mil dólares. Em 2016 foram feitas mais de 130 mil reclamações e praticamente 3.000km quadrados de arte de rua foram apagados. As multas em Los Angeles para quem for pego grafitando variam entre mil e cinquenta mil dólares. Quem se arrisca corre o risco também de ir para a prisão cumprir pena entre seis meses a um ano.

Comitê do Grafite: Espaço democrático em prol da arte urbana

Em Nova Iorque, por sua vez, a lei é mais branda. Quem é pego grafitando está sujeito a uma multa pequena e/ou a um ou dois dias de trabalho comunitário.

Em Madrid a multa para os grafiteiros vai de trezentos a seis mil euros, mas não há risco de prisão. Em Londres, uma das capitais do grafite, a lei é rigorosa: a multa é de até cinco mil libras e o infrator pode ficar preso por até dez anos.

A história do grafite

Inscrições em paredes públicas são conhecidas desde a época do Império Romano. No entanto, a arte do grafite ganhou força especialmente durante a década de 1970 em Nova Iorque quando um grupo de jovens resolveu desenhar marcas na cidade.

Um ano chave para o grafite foi maio de 1968, quando na capital francesa surgiu um movimento contracultural que usou os muros para inscrever trabalhos de caráter político ou mesmo poético. Veja abaixo exemplos de pichações feitas pelo movimento na época:

O grafite está muito ligado ao hip hop porque esse grupo viu na arte de rua uma linguagem para denunciar a opressão e a condição desfavorecida vivida por uma minoria que tentava dar voz.

Com o passar do tempo, as inscrições simples feitas inicialmente pelos grafiteiros foram ganhando contornos, cores e formas.

A primeira exposição inteiramente dedicada a arte do grafite foi realizada em 1975, em Nova Iorque, no Artist’s Space. Seis anos mais tarde, Diego Cortez organizou outra exposição que foi importantíssima para o movimento intitulada New York/New Wave.

O grafite no Brasil

O grafite ingressou no país no final da década de 1970 especialmente no Estado de São Paulo influenciado pela cultura norte-americana.

Vale lembrar que vivíamos um período marcado pela censura provocada pela ditadura militar, por isso os grafiteiros foram extremamente corajosos e transgressores.

De São Paulo a arte foi se espalhando, aos poucos, para outros Estados do país. Descubra agora o nome de alguns dos grandes nomes do grafite brasileiro contemporâneo:

Os gêmeos

Autores de importantes grafites, os Gêmeos (Gustavo e Otávio Pandolfo) saíram de São Paulo para ganhar as paredes do mundo.

Grafite enorme feito pelos gêmeos no Canadá.

Painel feito pelos Gêmeos no centro de Boston.

Eduardo Kobra

Nascido na periferia de São Paulo em 1975, Eduardo Kobra é um dos maiores artistas de rua do país já tendo realizado mais de 550 obras no Brasil e em outros 17 países.

Uma de suas obras mais famosas foi “O Beijo”, produzido em junho de 2012, em Manhattan, na região de Chelsea. A obra fazia uma releitura da fotografia tirada pelo jornalista norte-americano Alfred Eisenstaedt no dia 13 de agosto de 1945 que registrava a alegria do povo nas ruas com o fim da segunda guerra mundial. O painel de Kobra foi apagado quatro anos mais tarde.

Mural “O Beijo” foi produzido em junho de 2012, em Manhattan, Chelsea.

O mural abaixo, com a imagem da autora Anne Frank, faz parte do projeto Olhar a Paz, onde Kobra registra personalidades históricas que lutaram contra a violência como Ghandi, Einstein e Malala Yousafzai.

Mural feito por Eduardo Kobra em Amsterdam (na Holanda), em homenagem à Anne Frank.

Cranio

Fabio de Oliveira Parnaiba, conhecido no mundo das artes como Cranio, nasceu em 1982 em Tucuruvi, São Paulo. Seu trabalho tem uma pegada de forte crítica social e política e o personagem escolhido para protagonizar os seus murais foi o índio

O trabalho de Cranio é bastante conhecido nas ruas de São Paulo.

O índio, seu personagem central, chama a atenção para assuntos relevantes para o país como a Amazônia, as reservas florestais e o nacionalismo.

 

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