5 Dicas de livros para ler em 2019

 

Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura

Reunimos aqui dicas de leitura bastante ecléticas com títulos de praticamente todos os gêneros. Também não nos restringimos a um tempo histórico ou a um país específico, o nosso único critério foi recomendar livros que façam a diferença no seu ano de 2019.

Conheça abaixo os  títulos que farão você enxergar a vida de outro ângulo.

  1. O ano do pensamento mágico, de Joan Didion

O luto é dos temas mais duros que um escritor pode abordar. Joan Didion enfrenta, no entanto, com uma coragem ímpar, o desafio proposto. O ano do pensamento mágico é uma obra autobiográfica que foi escrita a partir da experiência da autora de ter perdido o marido de modo repentino.

Antes de ser um livro pesado ou deprimente, a abordagem escolhida pela escritora é a da honestidade absoluta e a da transmissão de dados recolhidos a partir de investigações científicas. Sim, Didion foi a procura de uma série de estudos sobre o luto para ajudá-la a compreender melhor o que estava se passando no seu próprio corpo.

Generosamente esses ensinamentos foram partilhados com o leitor, que encerra a leitura do livro muito mais rico e consciente da finitude da vida:

Não tinha feito alterações naquele documento desde que escrevera as palavras, em maio de 2004, um dia ou dois ou três depois do sucedido.
A vida muda num instante.
Um instante normal.
Em algum momento, com vista a poder lembrar-me daquilo que parecia mais assinalável sobre o que se passara, considerei acrescentar aquelas palavras: «um instante normal». Vi de imediato que não havia necessidade de acrescentar a palavra «normal», porque jamais o esqueceria: a palavra nunca abandonou a minha mente. De fato, era a natureza normal de tudo o que precedera o acontecimento que me impediu de acreditar que aquilo sucedera verdadeiramente, e de o absorver, incorporar, ultrapassar.

Com uma linguagem simples, coloquial, e uma entrega total – uma honestidade avassaladora – ficamos conhecendo o sofrimento de Didion, que é igual ao de todos nós que já perdemos uma pessoa querida.

Ao invés de nos esquivarmos da morte, o livro nos faz pensar sobre o assunto de uma maneira desdramatizada e realista, dando ferramentas para melhor digerirmos esse processo terrível que é o luto.

O ano do pensamento mágico é um livro essencial para todos aqueles que passaram por uma grande perda ou para aqueles que ainda irão passar, afinal de contas, a morte é inerente à vida.

Recomendamos veementemente a leitura dessa pequena obra-prima.

  1. A revolução dos bichos, de George Orwell

Em tempos politicamente cada vez mais conturbados, vale ler novamente A revolução dos bichos, um clássico escrito por George Orwell.

A fábula que foi publicada em 1945 permanece atual até os dias de hoje e a sua leitura nos faz embarcar em um mundo paralelo que, ao contrário do que possa parecer a primeira vista, tem muito a ver com o nosso.

A história se passa na Granja do Solar, onde uma série de bichos se reúne para fazer uma revolução. São galinhas, pombas, cachorros, cavalos, vacas, cabras, burros e ovelhas que possuem características humanas.

Liderados pelos porcos – considerados os mais inteligentes do grupo -, os animais desejam dar fim à exploração feita pelo senhor Jones, o dono da quinta:

Então, camaradas, qual é a natureza da nossa vida? Enfrentemos a realidade: nossa vida é miserável, trabalhosa e curta. Nascemos, recebemos o mínimo de alimento necessário para continuar respirando e os que podem trabalhar são forçados a fazê-lo até a última parcela de suas forças; no instante em que nossa utilidade acaba, trucidam-nos com hedionda crueldade. Nenhum animal, na Inglaterra, sabe o que é felicidade ou lazer, após completar um ano de vida. Nenhum animal, na Inglaterra, é livre. A vida de um animal é feita de miséria e escravidão: essa é a verdade nua e crua. Será isso, apenas, a ordem natural das coisas? Será esta nossa terra tão pobre que não ofereça condições de vida decente aos seus habitantes? Não, camaradas, mil vezes não!

Com muito custo o proprietário acaba por ser expulso da sua quinta e os animais tomam a frente da quinta, criando um novo tipo de sociedade, igualitária e baseada na não exploração.

A leitura de A revolução dos bichos é repleta de humor e nos faz pensar sobre a nossa própria sociedade, o sistema de trabalho, as condições de vida, a desigualdade.

Apesar de a narrativa ser construída como uma fábula e protagonizada por bichos, A revolução dos bichos aborda essencialmente a condição humana e a tendência de oprimirmos (ou sermos oprimidos).

Recomendamos a leitura porque acreditamos que a obra-prima de George Orwell pode ser um excelente pontapé inicial para começarmos o ano instigando uma severa crítica social.

A revolução dos bichos encontra-se disponível para download gratuito em formato pdf.

Conheça também uma análise de A revolução dos bichos, de George Orwell.

  1. A Arte Subtil de Saber Dizer que se F*da, de Mark Manson

Publicado no princípio de 2018, o livro de Mark Manson é duro, cru, mas ao mesmo tempo extremamente honesto e tece uma crítica à sociedade contemporânea que se habituou ao pensamento positivo.

Cheio de humor, ao longo dos nove capítulos vemos aspectos essenciais da vida serem abordados a partir de um ponto de vista original.

O leitor que aceitar o desafio proposto pela leitura certamente sairá com um olhar “fora da caixinha” porque o que Mark Manson faz é desconstruir lugares comuns. Um exemplo pode ser encontrado no capítulo 3, intitulado “Você não é especial”.

Ao contrário do que a sociedade tenta incutir, somos confrontados com a dura realidade de que somos mais um no meio da multidão, sofrendo de inseguranças e medos similares.

A escrita de Manson é anti o sonho americano, anti as histórias perfeitas, de superação, anti a felicidade plena idealizada. Trata-se de um elogio ao ser humano comum, médio, com os seus altos e baixos. A Arte Subtil de Saber Dizer que se F*da é uma tentativa de deixar o sujeito confortável com a sua própria condição e com os seus fracassos.

Com uma linguagem super informal, que simula uma conversa de bar, a criação de Mark Manson conquista o leitor porque trata de assuntos densos contemporâneos com extrema leveza:

Ironicamente, esta fixação no positivo — no que é melhor, no que é superior — apenas serve para nos recordar constantemente aquilo que não somos, aquilo que nos falta, aquilo que devíamos ter sido mas não conseguimos ser. Afinal, uma pessoa realmente feliz não sente necessidade de se postar diante de um espelho a entoar que é feliz. Apenas é.

Se desejar experimentar um pouco mais a escrita de Manson, as primeiras páginas de A Arte Subtil de Saber Dizer que se F*da estão disponíveis online para download gratuito.

  1. Sapiens: História Breve da Humanidade, de Yuval Noah Harari

O autor de Sapiens: História Breve da Humanidade é Yuval Harari, um historiador (doutor em História pela Universidade de Oxford) e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém.

Em seu best-seller ficamos conhecendo o processo de evolução da espécie humana pelo planeta. A partir de uma perspectiva interdisciplinar e científica, descobrimos o percurso do homem na Terra.

Aprendemos o que se passou nesse período de 70.000 anos da história humana e somos apresentados as revoluções que o homem promoveu ao longo do tempo (vale sublinhar as três maiores revoluções da espécie: a Revolução Cognitiva, a Revolução Agrícola e a Revolução Científica).

Percebemos, ao longo da leitura, como somos uma espécie ao lado de tantas outras e como a nossa existência individual é provisória e insignificante perante a noção de grupo. Ao contrário da cultura contemporânea – que nos faz crer que somos sujeitos únicos e especiais – Harari abre uma grande angular e nos mostra que fazemos parte de um sistema muito mais amplo:

Há cerca de 13,5 bilhões de anos, a matéria, a energia, o tempo e o espaço surgiram naquilo que é conhecido como o Big Bang. A história dessas características fundamentais do nosso universo é denominada física.
Por volta de 300 mil anos após seu surgimento, a matéria e a energia começaram a se aglutinar em estruturas complexas, chamadas átomos, que então se combinaram em moléculas. A história dos átomos, das moléculas e de suas interações é denominada química.
Há cerca de 3,8 bilhões de anos, em um planeta chamado Terra, certas moléculas se combinaram para formar estruturas particularmente grandes e complexas chamadas organismos. A história dos organismos é denominada biologia.

Em Sapiens: História Breve da Humanidade voltamos para o passado e testemunhamos o surgimento da matéria e da energia, o começo da física e da química, o aparecimento de átomos e moléculas – e depois somos remetidos para o futuro (será o homo sapiens substituído por super-humanos?).

Entre esses dois períodos aprendemos os eventos mais importantes para a espécie humana e como ela foi capaz de superar os desafios impostos pelas circunstâncias.

  1. O dilema do porco-espinho, de Leandro Karnal

O livro do historiador Leandro Karnal gira em torno de uma das maiores questões contemporâneas: a solidão.

A obra não enfoca apenas na solidão literal – no estar sozinho propriamente dito – mas também na sensação de solidão que persiste mesmo quando estamos acompanhados.

Em O dilema do porco espinho vemos um apanhado de ensinamentos recolhidos de diversos filósofos e pensadores – retirados inclusive da própria Bíblia – e nos perguntamos: por que nos sentimos sozinhos? A solidão é necessariamente má? Como podemos processa-la de modo saudável?

A explicação do título do livro pode ser encontrada já nas primeiras páginas e é um mote que guiará toda a narrativa:

Somos uma espécie de porco-espinho, pensava o filósofo Arthur Schopenhauer. Por quê? O frio do inverno (ou da solidão) nos castiga. Para buscar o calor do corpo alheio, ficamos próximos dos outros. Efeito inevitável do movimento: os espinhos nos perfuram e causam dor (e os nossos a eles). O incômodo nos afasta. Ficamos isolados novamente. O frio aumenta, e tentamos voltar ao convívio com o mesmo resultado.
A metáfora do filósofo alemão trata do dilema do humano: solitários, somos livres, porém passamos frio. A dois ou em grupo as diferenças causam dores.

Indicamos a leitura da obra de Karnal para começarmos o ano cientes das nossas questões interiores e interessados em explorarmos mais sobre a nossa condição de seres humanos solitários.

 

 

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