Sergio Garloppa – Produtor Artístico Cultural – Carioca, torcedor do Bangu, atualmente Morador de Volta Redonda -RJ. Trabalhou e produziu show de diversos artistas da MPB entre eles Baby do Brasil, Novos Baianos, Moraes Moreira, Elimar Santos, Paulinho Moska, Ivan Lins, Maria Gadu, Zeca Baleiro, Gonzaguinha, Vando, Charlie Brow Junior, Cazuza, e Luiz Melodia. Participou como produtor em 03 Rock in Rio e diversos shows internacionais.
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PAPO DE SOM
WALTER FRANCO – TUTANO
A música brasileira é uma das mais ricas do mundo, certamente alguns podem discordar dessa afirmação, principalmente se estiverem ouvindo alguma rádio; dessas populares. Mas continuo defendendo essa afirmação quando tenho o privilégio de ouvir gênios do cancioneiro nacional como os já consagrados Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Gilberto Gil entre outros. Porém a grandiosidade da música brasileira fica ainda mais evidente quando se tem o privilégio (privilégio esse que não está relacionado à classe econômica) e a oportunidade de conhecer o desconhecido e fugir da mediocridade de uma indústria fonográfica que desrespeita a inteligência daqueles que ainda não deixaram sua sensibilidade ser destruída pelo consumismo. Todo esse desabafo serve apenas como uma breve introdução para apresentar, para aqueles que ainda não tiveram o mesmo privilégio, um cara que para mim é um dos mais geniais cantores daquilo que podemos chamar verdadeiramente de música brasileira: Walter Franco, o poeta maldito.
Walter Franco faz parte de uma safra de artistas que infelizmente está e extinção, fez parte da geração dos anos 70, uma das décadas mais produtivas da música brasileira (e porque não dizer da música mundial), uma década na qual a maioria dos artista se preocupavam em criar uma arte com um real conteúdo, fosse ele político, social ou poético. E poesia é o que não falta em Walter Franco, filho de poeta, ele soube unir como ninguém a música e a poesia. Inovador em todos os sentidos sua música é as vezes uma viagem onírica, um poema concreto em movimento ou um grito desesperado contra aquela “dor canalha que nos dilacera”. Assim como outros artistas que foram rejeitados pela grande mídia, como o também genial Tom Zé, Walter se manteve fora do chamado “meio artístico” por quase vinte anos, depois de ter lançado nos anos 70 álbuns que são verdadeiras obras primas como “Revolver”, “Ou não” e “Vela Aberta”. Em 2001 ele retorna a ativa com “Tutano”, álbum tão bom quanto os seus clássicos setentistas, repleto de letras geniais e construções poéticas dignas de um sujeito que sonha sem tirar os pés do chão.
Tutano é um alívio. Primeiro porque Walter Franco está vivo e bem. Segundo, porque Tutano é um disco coerente, inteligente, atual. Ao contrário de outro “maldito”, Arnaldo Baptista, que apareceu com um disco horrendo anos atrás, cheio de “mudernices” a cargo de integrantes dos pretensiosos, metidos e fraquinhos Pato Fu, Walter fez um disco que mais parece uma continuação dos seus lindos trabalhos. E ao invés de “plim plóm” inúteis, temos músicas, o que muda tudo…
Se os mineiros apenas queriam publicidade gratuita explorando e expondo ao ridículo o nome do maior mito do rock nacional, Walter mostrou que ainda tem algo a dizer. Walter não caiu em uma armadilha.
O disco abre com duas lindas composições, “Nasça” (parceira com Arnaldo Antunes) e “Quem tem aos seus não degenera”, uma linda e sentimental canção.
Outro belo momento é a faixa-título e também “Na ponta da língua”, e “Totem”, belos exemplos da bela forma que se encontra hoje o artista. Vale ressaltar o nome de alguns músicos convidados – o percussionista João Parahyba, o vibrafonista Guga Stroeter. Na faixa que dá o nome ao trabalho, Walter canta com uma voz grave semelhante a de Leonard Cohen.
O trabalho conta ainda com dois momentos curiosos, como a parceria com o poeta Augusto dos Anjos em “Intradução” e regravações de “Cabeça”, a música que causou polêmica em um festival no ano de 1972. Aqui, ela aparece com um arranjo bem fiel ao original, e também “Muito Tudo”, que fecha o disco. Um baita disco.
(Texto: Sergio Garloppa – Rubens Leme da Costa – Nilton Aquino )
Walter Franco – Tutano
Faixas
- Nasça
- Quem puxa aos seus não degenera
- Tutano
- Na ponta da língua
- Totem
- Zen
- Ai, essa mulher
- Intradução
- Senha do motim
- Cabeça
- Gema do novo
- Acerto com a natureza
- Distâncias
- Muito tudo